sexta-feira, setembro 02, 2011

ONDE ESTÁ O MEU OURO DE MINAS?
(continuação)



Recentemente, numa viagem ao coração do sertão brasileiro (Goiás e Tocantins), o mais novo Estado da União, terra descoberta pelo célebre bandeirante português “Ahanguera” e onde se continuou a corrida ao ouro, (depois de exauridas as levadas de Minas), comprei um livro sobre a história da corrida ao ouro no Brasil, em finais do Séc. XVIII e princípios do XIX.
E, no que nos diz respeito, a coisa resuma-se assim: o ouro foi descoberto, a mando insistente da Corte de Lisboa (como se no contexto histórico dos impérios, fosse estranho a capital querer descobrir e explorar as riquezas da colónia), pelos heróicos bandeirantes, que eram, quase todos, brasileiros de São Paulo; quem escravizou os índios e os negros trazidos de África para as minas foram os portugueses, não os brasileiros; a Corte (isto é Portugal) roubou sem pudor, o ouro do Brasil, exigindo o célebre “quinto” – que o autor reconhece, todavia, que nunca conseguiu cobrar, nem próximo – (um quinto, 20%; tomáramos nós que hoje os Estados se contentassem em cobrar-nos 20% de impostos sobre a riqueza produzida!); quem deixou que as minas se esgotassem por falta de técnicas de exploração adequada, como viria depois a acontecer com o café, no Vale de Paraíba, já o Brasil era independente há muito), foi a Corte de Lisboa, a 10.000 Km de distância, e não os donos das explorações, que, por acaso, eram brasileiros; e quem, finalmente aproveitou o ouro do Brasil foi Portugal (que usou o que recebeu para, já então, pagar a dívida externa) e não o Brasil que ficou com 90% dele, usando-o para tornar São Paulo a cidade mais rica da América do Sul e dar berço ao próprio Estado de Minas Gerais (cuja tentativa de secessão, a “Inconfidência Mineira” foi sufocada por Portugal, mas a benefício do Brasil – até hoje).

De facto, não havia necessidade. Graças ao D. João V, sobretudo, ainda hoje nos tomam por ladrões no Brasil. E onde está o meu ouro de Minas?

Miguel Sousa Tavares

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