quinta-feira, setembro 08, 2011

TEREZA

BATISTA

CANSADA

DE

GUERRA



Episódio Nº 200



Ao regressar da primeira viagem após o aborto, o doutor trouxe mil lembranças para Tereza, entre elas um maiô de banho.

- Para irmos ao banho do rio.

- Irmos? Os dois juntos? – quis saber Tereza, pensativa.

- Sim, Favo de Mel, os dois juntos.

Tereza com o maiô por debaixo do vestido, o doutor com uma sunga minúscula sob as calças, atravessavam Estância em direcção ao rio. Apesar da hora matinal, já as lavadeiras batiam roupa nas coroas de pedra, mascando fumo de rolo, Tereza e o doutor recebiam o duche forte da cachoeira do Ouro, pequena queda de água.

O lugar era deslumbrante: correndo sobre seixos, a sombra de árvores imensas, o rio abria-se mais adiante num grande remanso de água límpida. Para ali se encaminhavam após o duche, atravessando entre as peças de roupa postas a enxaguar pelas lavadeiras.

A água, no ponto mais profundo, dava no ombro do doutor. Estendendo os braços ele mantinha Tereza à tona ensinando-a a nadar. Os redemoinhos, as brincadeiras, o riso solto, os beijos trocados dentro de água, o doutor num mergulho a sujeitá-la pela cintura, a mão no seio ou por dentro do maiô, insolente, estranho peixe escapando-lhe da sunga. Prelúdios de amor, o desejo se acendendo no banho do rio Piauitinga.

Na volta, em casa, no banheiro e na cama completavam o alegre começo da manhã.

Manhãs de Estância, ai, nunca mais.

A princípio despertaram a curiosidade geral, janelas repletas, as solteironas lastimando a nova atitude do doutor, antes prudente e respeitoso, perdendo a descrição com o passar do tempo, virando velho gaiteiro a satisfazer caprichos de rapariga jovem.

Outra coisa não queria a descarada senão exibir o amásio rico, esfregando-se nas fuças da população, num desrespeito às famílias.

Na maior safadeza nas águas do rio, ele praticamente nu, só faltavam botar ali mesmo, na vista das lavadeiras. Na vista das lavadeiras, não, não dava para elas verem. Por mais de uma vez acontecera, Tereza escanchada no doutor, na pressa e no medo de surgir alguém, numa atrapalhação, uma delícia.

Assim sendo, jamais poderiam as beatas imaginar houvesse Tereza oferecido certa resistência quando do convite.

Juntos? O povo vai falar, vai-se meter na vida do senhor.

Deixa que falem, Favo de Mel – Tomando-lhe as mãos acrescentou: - Já se foi o tempo…

Que tempo? Aquele inicial, de desconfiança, de acanhamento?

Adventícios ambos, adivinhando-se mas não se conhecendo, descontraídos só na cama e mesmo ali em termos: ela a se dar com violência, com fome de carinho, ele a dirigi-la pouco a pouco, paciente. Tempo de prova, Alfredão a segui-la pela rua, a ouvir e a transmitir conversas, a guardar a porta, a correr com galanteadores e mexeriqueiros. Tereza escondida no jardim, no pomar, dentro de casa, envolta nas exigências da responsabilidade do doutor.
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