quarta-feira, setembro 14, 2011

TEREZA


BATISTA

CANSADA

DE

GUERRA


Episódio Nº 205


O capitão gostava de fazer aos demais ostentando galos de briga, cavalos de sela, pistola alemã, colar de cabaços. Levara Tereza à rilha de galos para ver nos olhos dos parceiros o brilho turvo da cobiça. Mas por acaso se parece o doutor com o capitão?

- Quero você para mim somente.

Os amigos ao jantar, o banho de Piauitinga, o passeio vespertino, a caminhada nocturna, a ponte sobre o rio Piauí, o porto das barcas. Para ela bastava e mesmo se devesse ficar trancada em casa não se importaria. Ouvi-lo dizer que a quer para si, exclusivamente, paga qualquer limitação.

Mais de uma vez planejaram passeios a lugares próximos. Ida de lancha à barra do rio Real, na divisa da Bahia com Sergipe para ver o mar rebentando na praia do Mangue Seco, dunas imensas de areia, para visitar a povoação do Saco, aldeia de pescadores. Nunca saíram da cidade, Tereza não conheceu o mar naquela época, e se bem houvesse desejado a excursão, não cobrou a promessa, não se importou de não realizá-la. Bastando-lhe a presença do doutor, estar com ele em casa, com ele a conversar, rir e aprender, com ele sair à rua, com ele se deitar, ah! com ele se deitar!

Sendo curto o tempo disponível do doutor, o tempo dedicado à Tereza, roubado à usina, ao Banco, aos negócios, à família, gastavam-no quase todo a sós, no escondido do chalé. Para o doutor era um repouso, uma pausa: para Tereza, a vida.

A cidade se habituara à presença constante e transitória do doutor – a sunga no banho do rio, a flor na mão, em companhia da amásia, parados os dois diante dos casarões antigos a conversar no Parque Triste, debruçados na ponte, indiferentes à maledicência.

O doutor perdera por completo o comedimento: homem rico – todos sabem – tem direito a manter amásia de casa posta e conta aberta, quase obrigatória condição de seu estado, mas, sendo casado, não fica bem exibir a amiga em público, ofendendo aos bons costumes, pois grandeza se deve possuir e não exibir.

Com o passar dos anos a maledicência perdeu força e volume, sabor de novidade, fazendo-se necessária a chegada à terra de um filho pródigo para retirar do esquecimento gasto tema de conversa e mexerico, antigamente apaixonante: o doutor Emiliano Guedes e amásia, formosa e pública. Patriota, a idónea Dada louva as benemerências de Estância, chão de flores, céu de estrelas, de lua desbragada e louca, povo generoso e tolerante, abrigo ideal para amores clandestinos:

- Quem diz não sou eu, primo, é o major Atílio: chegou aqui no fim das forças, velho entrevado, para mulher não olhava há anos, já se esquecera como eram as partes. Com o ar de Estância e a água do Piauitinga, em menos de um mês botou rapariga em casa e lhe fez filho.

Ele mesmo conta para quem quiser ouvir. A fulana do doutor também já esteve de bucho cheio, já tirou menino, é a água daqui, primo, milagrosa!

- Ai prima, a moça do doutor dispensa milagre. Basta um olhar, levanta até defunto. (clik na imagem)

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