sexta-feira, setembro 16, 2011

TEREZA

BATISTA

CANSADA

DE

GUERRA




Episódio Nº 207



Ainda recém chegados a Estância, concluídas as obras do chalé, inaugurados os novos banheiros, o doutor iniciou Tereza no prazer do banho de imersão com sais e óleos.

Pela manhã, o duche forte, a água do rio. No fim da tarde, ou à noite, o langor da água morna, os aromas. Com tanto vidro de perfume à escolha, ela, que só viera a gastar cheiro na pensão de mulheres, lorigan-de-coti barato e forte, notara a preferência do doutor por um frasco de água-de-colónia, sem dúvida estrangeira. Ao fazer a barba e ao sair do banho, invariavelmente Emiliano a usava, seca fragrância, agreste.

Para agradá-lo, um dia, após o banho vespertino, Tereza tomou do vidro e se encharcou com água-de-colónia do amásio; assim veio encontrá-lo ao pé do leito. Emiliano levantara-se para a acolher e ao sentir o perfume espalhado sobre ela, riu o riso largo, capitoso:

- Que fizeste, Tereza? Esse perfume é de homem.

- Vi o senhor usar com tanto gosto, usei também, pensando…

Esguia menina, corpo em formação, ancas insolentes, o doutor a volteou e a reteve de costas contra si. Da ponta dos cabelos aos dedos dos pés, da rosa do xibiu ao goivo do subilatório, o corpo inteiro de Tereza foi posse do doutor, chão de sua lavra.

Com o tempo, soube Tereza dos perfumes e da maneira de usá-los. Na hora da barba ela mesmo passava a água-de-colónia, no rosto, no bigode e nos pêlos brancos do peito cabeludo do doutor.

Gostava de aspirar o perfume seco, agreste, de homem. Vez por outra, ele, tomando o frasco da mão da amiga, punha-lhe uma gota no colo e a volteava, sentindo-lhe a palpitação das ancas. Cada gesto, cada palavra, cada olhar, cada aroma, tinha um valor próprio.

Ai, Emiliano, não recordes agora tais momentos, deixa a morte se assentar de todo no meu ventre para que eu recolha então teu legado imenso de alegria e de prazer.

27

Acontecia ao doutor contar a Tereza um mexerico do qual eles eram personagens, matéria para divertimento e riso.

O círculo das comadres transformara um espelho colocado na parede do quarto de dormir em aposento recoberto de espelhos, com funções eróticas. O espelho, é certo, reflectia a cama, os corpos nus e as carícias; a propósito o doutor o escolhera enorme e o situara onde devido. Mas sendo um único, as linguarudas o multiplicaram por dezenas.

As aulas ministradas por Tereza às crianças da rua deram margem a sensacional notícia: a pique de ser abandonada pelo usineiro, preparava-se Tereza para ganhar a vida exercendo o magistério primário.

Contraditórias, as beatas discutiam em seguida, os nomes dos ricaços candidatos a substituir o doutor nos braços da amásia quando afinal chegasse a ocasião, o cansaço inevitável. (clik na imagem)

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