TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 214
Os homens já não invejarão o doutor, velho felizardo! As mulheres deixarão de criticar a amásia, felizarda moleca! Já não serão vistos na rua, afrontando a moral, passo tranquilo, riso solto, os felizardos!
Para tristeza das xeretas, encerra-se o debate aberto com o fim de indicar qual dos graúdos das fábricas, das usinas, das fazendas, assumirá o posto vago na cama de Tereza quando o doutor se fartar.
Não temas, Emiliano. Não me transformei numa senhora como desejavas, talvez por não tê-lo conseguido, talvez por não querer. Que serventia possui uma senhora? Prefiro ser mulher direita, de palavra. Embora até hoje tenha sido apenas escrava, mulher-dama, amásia, nada temas: esses ricaços daqui, jamais, Emiliano! Nenhum deles tocará sequer a barra do meu vestido, teu orgulho também é minha herança. Antes a pensão de putas.
Os teus não tardarão a chegar, já saíram do baile, correm na estrada, vêm buscar o prócer. Também nossa festa acabou, breve tempo de uma rosa nascer e se finar. Acabou-se Estância, Emiliano, vamo-nos embora.
Vêm-te buscar, levarão teu cadáver. Eu levarei em minhas entranhas tua vida e tua morte.
29
Na quinta-feira, o doutor chegou no meio da tarde. Ao ouvir a busina do automóvel, Tereza vem correndo do fundo do pomar, os braços estendidos, o rosto iluminado pelo contentamento.
Assim, quase uma figura de lenda, surgindo de um bosque mitológico, mulher e pássaro. Emiliano a viu atravessando o jardim, nos olhos o brilho de carvão aceso, na boca o riso de água corrente, transbordante de amor; vê-la já lhe aquietou o sombrio coração.
Tereza constata na face do amante os traços de fadiga expostos, apesar do esforço para escondê-los. Beija-o na face, no bigode, na testa, nos olhos, no rosto todo, a limpá-lo da estafa, do enfado, da tristeza. Aqui não cabem o pesadelo, os termos inglórios do combate, a solidão, meu bem-amado.
Ao transpor o portão do jardim é como se ele arribasse ao porto mágico de um mundo inventado onde só a paz, a beleza e o prazer existem. Ali a vida o espera no riso, nos olhos, nos braços de Tereza Batista.
Namorando, entram casa adentro, enquanto o chofer, ajudado por Lula, desembarca maleta, pasta, pacotes, mantimentos, a pequena bicicleta encomendada por Tereza para Lazinho, cujo aniversário se aproxima. Sentam-se na beira da cama para o beijo de boas-vindas, demorado e repetido.
- Vim directo de Bahia, não passei na usina, com as chuvas as estradas estão uma porcaria – diz ele para explicar o cansaço visível, mas não engana Tereza.
Antes o doutor nunca vinha directamente da Bahia, parando sempre na usina ou em Aracaju para fiscalizar o trabalho, estar com os parentes. Desde que o genro assumira a gerência da sucursal do Banco, só de raro em raro vai a Aracaju, quando mais devia ir para ver a filha, a predilecta. (clik na imagem)
Os homens já não invejarão o doutor, velho felizardo! As mulheres deixarão de criticar a amásia, felizarda moleca! Já não serão vistos na rua, afrontando a moral, passo tranquilo, riso solto, os felizardos!
Para tristeza das xeretas, encerra-se o debate aberto com o fim de indicar qual dos graúdos das fábricas, das usinas, das fazendas, assumirá o posto vago na cama de Tereza quando o doutor se fartar.
Não temas, Emiliano. Não me transformei numa senhora como desejavas, talvez por não tê-lo conseguido, talvez por não querer. Que serventia possui uma senhora? Prefiro ser mulher direita, de palavra. Embora até hoje tenha sido apenas escrava, mulher-dama, amásia, nada temas: esses ricaços daqui, jamais, Emiliano! Nenhum deles tocará sequer a barra do meu vestido, teu orgulho também é minha herança. Antes a pensão de putas.
Os teus não tardarão a chegar, já saíram do baile, correm na estrada, vêm buscar o prócer. Também nossa festa acabou, breve tempo de uma rosa nascer e se finar. Acabou-se Estância, Emiliano, vamo-nos embora.
Vêm-te buscar, levarão teu cadáver. Eu levarei em minhas entranhas tua vida e tua morte.
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Na quinta-feira, o doutor chegou no meio da tarde. Ao ouvir a busina do automóvel, Tereza vem correndo do fundo do pomar, os braços estendidos, o rosto iluminado pelo contentamento.
Assim, quase uma figura de lenda, surgindo de um bosque mitológico, mulher e pássaro. Emiliano a viu atravessando o jardim, nos olhos o brilho de carvão aceso, na boca o riso de água corrente, transbordante de amor; vê-la já lhe aquietou o sombrio coração.
Tereza constata na face do amante os traços de fadiga expostos, apesar do esforço para escondê-los. Beija-o na face, no bigode, na testa, nos olhos, no rosto todo, a limpá-lo da estafa, do enfado, da tristeza. Aqui não cabem o pesadelo, os termos inglórios do combate, a solidão, meu bem-amado.
Ao transpor o portão do jardim é como se ele arribasse ao porto mágico de um mundo inventado onde só a paz, a beleza e o prazer existem. Ali a vida o espera no riso, nos olhos, nos braços de Tereza Batista.
Namorando, entram casa adentro, enquanto o chofer, ajudado por Lula, desembarca maleta, pasta, pacotes, mantimentos, a pequena bicicleta encomendada por Tereza para Lazinho, cujo aniversário se aproxima. Sentam-se na beira da cama para o beijo de boas-vindas, demorado e repetido.
- Vim directo de Bahia, não passei na usina, com as chuvas as estradas estão uma porcaria – diz ele para explicar o cansaço visível, mas não engana Tereza.
Antes o doutor nunca vinha directamente da Bahia, parando sempre na usina ou em Aracaju para fiscalizar o trabalho, estar com os parentes. Desde que o genro assumira a gerência da sucursal do Banco, só de raro em raro vai a Aracaju, quando mais devia ir para ver a filha, a predilecta. (clik na imagem)
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