terça-feira, outubro 11, 2011

TEREZA



BATISTA


CANSADA


DA


GUERRA






Episódio Nº 227



Túlio espera jamais sentir necessidade de lar, da quietude, do sossego, da paz ali presentes, mesmo na morte. Quanto à mulher, está perfeitamente satisfeito com Apa, riqueza e segurança, alegre companheira. Viva e deixe viver, é a divisa de Túlio Bocatelli. Apenas de agora em diante precisa controlar os desperdícios. O capo podia ser perdulário, nascera rico, já seus bisavós possuíam terras e escravos, nunca sentira o gosto da miséria, Túlio passara fome, sabe o valor real do dinheiro, segurará as rédeas com mão firme.

- A escritura da casa está em nome de quem? Dele? Dela?

- No do doutor. Assinei como testemunha. Eu e mestre João…

- Aqui em Estância os imóveis são baratos.

Estivesse situada nas aforas de Aracaju, seria perfeita para encontros de amor. Em Estância, inútil. O melhor é vender a casa ou alugá-la. Levar os móveis para a Bahia, Túlio pensa utilizá-los em casa sua, na capital, para ele terminou-se Aracaju.

Doutor Amarílio entrega-lhe o atestado de óbito. Túlio guarda no bolso:

- Morreu dormindo?

- Dormindo? Bem… Na cama, mas não exactamente enquanto dormia…

- Que fazia então?

- O que um homem e uma mulher fazem na cama…

- Chiavando? Morreu em cima dela? Acidente!

A morte dos justos, a dos preferidos do bom Deus. Para a mulher, em compensação, uma calamidade. Nos seus tempos de cafetão, Túlio soubera de um caso assim, a mulher enlouquecera, nunca mais foi a mesma

- Poveraccia… Como é o nome todo dela? Tereza de quê?

- Tereza Batista.

- Será que ela pensa continuar aqui?

- Não creio. Disse que vai embora de Estância.

- O senhor acha que uns quinze ou vinte dias são suficiente para ela deixar a casa? Naturalmente a família vai querer vender ou alugar em seguida para que o povo se esqueça deste assunto.

Penso que é o bastante. Posso falar com ela.

- Eu mesmo falo…

Levantam-se, dirigem-se à sala de visitas transformada pelo doutor em gabinete de trabalho, para a qual se abre a porta da antiga alcova, onde estão livros e objectos de Tereza e onde ela se encontra arrumando a mala. Túlio pousa os olhos na moça e novamente a examina e admira, esplêndida fêmea, quem a herdará do velho capo? Aproxima-se:

- Escuta bela. Estamos nos primeiros dias de Maio, pode continuar a ocupar a casa até ao fim do mês.

- Não preciso.


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