sábado, novembro 12, 2011

TEREZA


BATISTA


CANSADA


DE


GUERRA





Episódio Nº 255




Na delegacia, teria gostado de dizer as últimas àquela caterva de celerados mas para tanto lhe faltava ânimo. Os olhos do comissário, olhos de necrotério, um facínora. Guardou a raiva toda para as donas de pensão-de-mulheres de Barroquinha.

Vieram todas, eram seis, a audiência durou apenas alguns minutos. Empurradas aos trancos para a sala do delegado, para início de conversa ouvem uma descompostura em regra, o bacharel desabafa, esmurrando a mesa. Que estavam pensando? Que não havia mais autoridade na Bahia? Recebiam ordem de mudança, endereço onde tratar a locação dos imóveis e do respectivo depósito, novo domicílio e, como se nada se lhes houvesse sido comunicado, continuam a infestar a Barroquinha. Que espécie de loucura as atacara?

- Ninguém pode morar naqueles pardieiros, está tudo podre: soalhos, forros, paredes. Nem morar nem receber homem – atreve-se a dizer Acácia, de cabelos brancos, cega de um olho, deã das proxenetas, dona de uma pensão onde habitavam e e exerciam oito mulheres – é pestilento demais.

Tenho aqui o laudo da Saúde Pública declarando que os sobrados possuem todas as condições de higiene necessárias. Ou vocês querem viver nos palacetes do Corredor da Vitória, da Barra, da Graça? Estão pensando o quê?

- Mas, doutor… - também Assunta tenta atrever-se.

- Cala a boca! Não as mandei chamar para ouvir conversa fiada. O local é óptimo, aprovado pela Saúde Pública e pela Polícia. Nada mais a discutir. Vou dar a vocês até amanhã para se mudarem. Se amanhã de noite ainda houver uma só pensão aberta na Barroquinha, o pau vai comer. Depois não se queixem. Quem avisa, amigo é.

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De passagem pela Delegacia, à noite, o bacharel Hélio Cotias busca obter alguma informação sobre o problema da mudança.

- Onde está o comissário Labão?

- Em serviço na rua, doutor.

- E Nicolau?

- Também saíram juntos.

Certamente para controlar a operação pela qual são os responsáveis. De qualquer maneira, o prazo dura até ao dia seguinte.

No automóvel chapa branco Cármen espera, vão jogar biriba na residência do parlamentar, alguns casais da nata, o delegado sorri ao pensar em Bada. Na véspera lhe dissera estatueta de Tanagra, hoje lhe dirá: enigmática Gioconda de Leonardo. De nenhuma maneira beber o uísque falsificado, contentar-se com um copo de cerveja.

Para ganhar tempo, ordena ao chofer cortar caminho, já estão atrasados. O carro atravessa por escusas ruelas, a luz dos faróis ilumina mulheres à cata de homens, outras a la vontê nas porta dos bordéis. Cármen, espia, curiosa.

- Você agora é que manda nesta gente, não é? Meu pequeno Hélio, rei das marafonas. Que engraçado.

- Não acho graça nenhuma, é um posto importante e muita responsabilidade.

O automóvel desemboca na Baixa dos Sapateiros, ruma para Nazaré
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