sábado, novembro 26, 2011

Uma Lacuna Muito Necessária ?

(continuação)




Mas melhor ainda, os amigos – e os deuses imaginários - têm tempo e paciência para dedicar toda a atenção a quem sofre. E são muito mais baratos do que os psiquiatras ou os conselheiros profissionais.

Terão os deuses, nesse seu papel de consoladores e conselheiros evoluído a partir de Binkers por meio de uma espécie de “pedomorfose” psicológica.

A “pedomorfose” é a manutenção na idade adulta, de características da infância.

Terão as religiões, originariamente evoluído, ao longo de gerações, através de um adiamento gradual do momento da vida em que as crianças põem de parte os “Binkers” – do mesmo modo que fomos abrandando, ao longo da evolução, o achatamento da testa e a protrusão (projecção para a frente) dos maxilares?

Para completar o quadro, consideremos a possibilidade inversa. Em vez de serem os deuses a evoluir a partir de Brinkers ancestrais, será possível os Brinkers terem evoluído de deuses antigos?

Esta ideia parece menos provável.

O psicólogo norte-americano Julien Jaynes observou que muitas pessoas têm a percepção que os seus próprios processos de pensamento são como uma espécie de diálogo entre o “eu” e outro protagonista interno, situado dentro da cabeça.

Hoje em dia compreendemos que ambas as vozes são nossas e senão o compreendermos somos tratados como doentes mentais.

Foi o que aconteceu, durante um breve período, com Evelyn Waugh, escritor inglês de personalidade difícil.

Sem papas na língua, como era seu timbre, comentou com um amigo: «Não te vejo há muito tempo, mas também tenho visto tão pouca gente porque – não sei se sabias – enlouqueci.»

Depois de recuperar, Evelyn escreveu um romance, “As Desventuras do Senhor Pinfold”, em que descreve o seu período alucinatório e as vozes que então ouvia.

O que Jaynes sugere é que antes do ano 1.000 A.C. a generalidade das pessoas desconhecia que a segunda voz – a que o Sr. Pinfold ouvia – vinha de dentro de si.

Julgavam-na a voz de um deus.

Jaynes vai mesmo ao ponto de localizar a “voz dos deuses no hemisfério do cérebro oposto ao que controla a linguagem.

Terá sido o momento em que as pessoas se deram conta de que as vozes exteriores que lhes parecia ouvir vinham, efectivamente, de dentro de si mesmas.

Jaynes considera esta transição histórica como o alvor da consciência humana.

Os deuses seriam, então, vozes alucinadas que falavam dentro das cabeças das pessoas.

Assim, e numa espécie de inversão da hipótese da pedomorfose, os deuses alucinados começaram, primeiro, por desaparecer das mentes adultas e foram, depois, puxados para trás, para fases cada vez mais recuadas da infância, até às suas actuais sobrevivências sob a forma de fenómenos como o Binker ou o “homenzinho púrpura”. O problema desta versão é que não explica a persistência dos deuses, hoje, na idade adulta.

Talvez seja melhor não tratar os deuses como antepassados dos Brinkers ou vice-versa,
mas antes encarar ambos como sub-produtos da mesma predisposição psicológica que têm em comum o poder de confortar.

Richard Dawkins
( Prémio Nobel em 1973 pelos seus estudos em Etologia)


Nota – Michael Shermer, psicólogo americano que há vários anos se dedica a uma cruzada em defesa do pensamento científico contra as superstições, diz o seguinte:

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“Haverá alguma coisa que nos toque mais a alma do que espreitar uma galáxia distante por um telescópio de 100 polegadas, segurar na mão um fóssil com 100 milhões de anos ou um utensílio de pedra com 500.000 anos, contemplar de pé o imenso abismo de espaço e tempo que é o grande Canyon, ou escutar um cientista que olhou cara a cara a criação do universo e não pestanejou? É isso a profunda e sagrada ciência.”

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