quinta-feira, dezembro 01, 2011

TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA


Episódio Nº 271



30

Pela primeira vez em muitos anos não se ouve àquela hora no bordel a densa respiração dos sexos, moendas de prazer a trabalhar. No insólito silêncio, Greta Garbo, indecisa, rói as unhas, deve aderir ou não?

No quarto de Vavá, pai Natividade prepara os búzios para o jogo. Encostado à parede, Amadeu Mestre Jegue. O aleijado fala, define a complicada situação.

- Mandei-lhe chamar, meu pai, porque as coisas estão se pondo feias para o meu lado e quero aconselhar-me com o compadre.

No pescoço de Vavá colar de contas pretas e vermelhas, as contas de compadre Exu. Precisa de ser esclarecido sobre um ror de dúvidas, nunca se encontrou tão necessitado de ajuda.

Se a polícia quiser mudar as raparigas do Maciel para o Pilar e assim arruiná-lo, ele deve obedecer, como sempre obedeceu ou deve ouvir o conselho da moça e recusar? Deve acolher as raparigas da Barroquinha? E a maconha que o detective quer armazenar ali no quarto? Vale a pena consentir ou corre perigo?

Ainda por cima, acontece, agora, essa loucura do balaio fechado, as quengas se furtando a trabalhar, que me diz disso compadre Exu? Como hei-de agir? Estou perdido sem saber.

Por fim me fale sobre a moça, é direita ou falsa, posso nela confiar ou é capaz de engano e traição? Já alimentei serpentes em meu peito cândido, se a cuja é ruim, dela me afaste e salve. Mas se é tão sincera quanto formosa, ai, sou o homem mais feliz do mundo.

Pai Natividade agita o adjá, salvando. Canta em voz baixa.

Bará ô bêbê
Tiriri lonan

Do monte de terra onde o tridente está fincado, no peji, Exu Tiriri responde alegremente:

Exu Tiriri
Bará ôbêbê
Tiriri lonan

Saiam todos do caminho, que Exu vai passar. Ao contrário de Ogum Peixe Marinho, Exu Tiriri é saliente e ruidoso, amigo do movimento, de qualquer molecagem, promotor de confusão e de desordem.

Os búzios saltam da mão de pai Natividade, rolam e falam. Aqui não quero drogas de nenhuma espécie, só cachaça e de comer. Vivos, na mão de babalorixá, os búzios continuam a responder.

Quero ver os balaios todos fechados, nem um só aberto, os homens de estrovenga armada sem ter onde descarregar desejo e fúria. Se houver barulho e correr sangue não se importe, no frigir dos ovos tudo dará certo e do Maciel ninguém se muda que Exu não deixa. Nem aqui nem de parte alguma, se todos os balaios se fecharem até a polícia desistir de perseguir o povo. Quem ordenou o fechamento dos balaios fui eu, Exu, e ninguém mais.

O pai-de-santo lê nos búzios a sentença fatal: ai daquela rapariga que receber homem antes da aleluia romper na Barroquinha! Ai da dona-de-pensão, do dono de bordel, da casteleira que permanecer de porta aberta e quiser violar a fechadura dos balaios!

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