sexta-feira, dezembro 02, 2011

TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA

Episódio Nº 272





A rapariga ficará podre, carregada de doença, comida de sífilis, cega, paralítica, leprosa. O cafetão ou a caftina morrerá antes de completar um mês, de morte feia, curtindo dores.

E da moça, que me diz? Chama-se Tereza Batista, quero saber se é direita ou abriga maldade e fingimento debaixo de tanta formosura.

Exu Tiriri o fez calar-se. Para pronunciar o nome de Tereza lave a boca antes. Pessoa mais correcta não existe, nem aqui nem em lugar nenhum. Mas desista enquanto é tempo, ela não é para seu bico. No peito um punhal cravado, Tereza no mar perdida.

- Doença ou mal de amor? – Vavá pergunta.

- Mal de amor, mortal doença.

- Mal de amor tem cura… – Ninguém viveu tanto quanto Vavá, o tempo dos bordéis se conta em triplo.

Para tudo dar certo, Exu pede um bode e doze galos pretos. Depois, manda que todos saiam do caminho, pois já vai embora:

Bará ô bêbê
Tiriri lonan

Lembranças para a moça, estou mandando, piso em seus paços. Ai daquela que não fechar o balaio. De cima do tridente arrematou: ai daquela!

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Ai da1quela! – praga rogada e repetida pelas raparigas da zona inteira, da Barroquinha ao Carmo, do Maciel ai Taboão, do Pelourinho à Ladeira da Montanha. De casa em casa, de quarto em quarto, de boca em boca.

Ai daquela! – ameaça lançada e transmitida em nome de Vavá, de dona Paulina de Sousa, da velha Acácia, presa no xadrez.

Ai daquela! – nas encruzilhadas do puteiro, a voz de Exu, senhor de todos os caminhos, dono de todos os balaios, possuidor da chave.

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O delegado Hélio Cotias acordou cedo e manteve longa conversa com o tio da esposa. Informou, vitorioso, ufano: mudança praticamente realizada, os móveis já se encontram na Ladeira do Bacalhau, as casas da Barroquinha estão fechadas, uma batalha, tivera de agir com mão de ferro.

Mesquinho, o parente retrucou dizendo não ver motivo de vanglória em nada daquilo. Bom teria sido se as mulheres se houvessem se mudado tranquilamente, sem escândalo, sem escarcéu, sem notícias nos jornais nem entrevistas idiotas. Sem falar no cliché do caminhão da polícia carregando os móveis e na crónica do tal de Jehová. Velho ranheta, nunca está doente.

Nas páginas dedicadas às ocorrências policiais as gazetas deram o devido destaque aos acontecimentos da Barroquinha: VIOLENTO CONFLITO NO MERETRÍCIO; A MUDANÇA DA ZONA COMEÇA COM PANCADARIA; CAMINHÕES DA POLÍCIA MUDAM AS RAMEIRAS PARA O BACALHAU, eis alguns dos títulos e subtítulos das reportagens, uma delas ilustrada com a foto do caminhão oficial carregado com teréns retirados dos bordéis.

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