TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 273
Do bafatá nenhum cliché, pois apenas um fotógrafo, o barbudo Rino, aparecera durante a birra, a tempo de documentar o heroísmo dos polícias em luta com as mulheres, baixando o braço, o cassetete, a coronha dos revólveres. Tomaram-lhe a máquina, destruíram o filme e quase o levaram preso.
Os beneméritos guardiães da moral são de natureza modesta, não apreciam ver publicados instantâneos dos nobres actos de coragem e devotamento à causa pública, preferem fotos simples, posadas, feitas na Delegacia.
Fotos como a do delegado Cotias, sorridente, a ilustrar rápida entrevista concedida aos jornalistas acreditados junto da delegacia especializada.
“Estamos limpando o centro da cidade da chaga do meretrício, tornando realidade a patriótica campanha da imprensa. Começamos pela Barroquinha, prosseguiremos inflexivelmente – não ficará um só bordel na actual zona de prostituição.”
Declaração de alto valor moral e cívico, sem dúvida, digna de elogios e aplausos. Contudo, a inflexibilidade e extensão da limpeza prevista e apenas iniciada concorreram grandemente para reforçar o apoio dos cafetões e caftinas ao movimento do balaio fechado.
Por outro lado, nem tudo eram simpatias pelo gentleman da polícia entre os profissionais da imprensa. O cronista Jehová de Carvalho, favorável à causa das raparigas, pouco afeito aos tiras, condenou com rudeza e malícia, em sua popular coluna, a violência da acção policial.
Irónico, perguntara, ao final da crónica, se “a transferência do mulherio da Barroquinha para a Ladeira do Bacalhau faz parte da tão badalada utilização turística da vasta área cujo destino era ser o paraíso dos visitantes da cidade, segundo fora amplamente anunciado.”
Com mais clareza não podia se expressar o poeta Jehová, os jornais, sabemos todos, vivem da matéria paga e não da venda avulsa.
Olhando a pose varonil do delegado na foto do matutino, Cármen, a esposa, née Sardinha e Sardinha se mantendo no áspero carácter, comentou, depreciativa:
- Machão, hem? O rei das marafonas castigando suas súbditas! A polícia está lhe fazendo bem, meu pequeno Hélio, você está virando homem.
De qualquer maneira, apesar de detalhes tão desagradáveis, o delegado recolheu da actuação da véspera motivos de contentamento. Bada, tendo lido os jornais, foi comovente ao telefone. Meu herói! Correu perigo? Me conta hoje à tarde? No lugar combinado às quatro? Meu Bonaparte!
33
Por volta das onze da manhã, o delegado Hélio Cotias salta do automóvel na Delegacia de Jogos e Costumes. Manda buscar no depósito as raparigas presas.
Os homens tinham sido soltos pela madrugada, entre empurrões e protestos, dois deles em cuecas. Haviam apanhado um pouco para não mais tentarem obstaculizarem a acção da polícia. Uns tabefes, coisa leve.
Surra mesmo, das boas, de encaroçar, tomou a negra Domingas, metera-se a valente durante o sururu, enfrentando os tiras. Ficou moída a cara lustrosa e apetecível virou uma pasta feia e opaca. (click na imagem)
Os beneméritos guardiães da moral são de natureza modesta, não apreciam ver publicados instantâneos dos nobres actos de coragem e devotamento à causa pública, preferem fotos simples, posadas, feitas na Delegacia.
Fotos como a do delegado Cotias, sorridente, a ilustrar rápida entrevista concedida aos jornalistas acreditados junto da delegacia especializada.
“Estamos limpando o centro da cidade da chaga do meretrício, tornando realidade a patriótica campanha da imprensa. Começamos pela Barroquinha, prosseguiremos inflexivelmente – não ficará um só bordel na actual zona de prostituição.”
Declaração de alto valor moral e cívico, sem dúvida, digna de elogios e aplausos. Contudo, a inflexibilidade e extensão da limpeza prevista e apenas iniciada concorreram grandemente para reforçar o apoio dos cafetões e caftinas ao movimento do balaio fechado.
Por outro lado, nem tudo eram simpatias pelo gentleman da polícia entre os profissionais da imprensa. O cronista Jehová de Carvalho, favorável à causa das raparigas, pouco afeito aos tiras, condenou com rudeza e malícia, em sua popular coluna, a violência da acção policial.
Irónico, perguntara, ao final da crónica, se “a transferência do mulherio da Barroquinha para a Ladeira do Bacalhau faz parte da tão badalada utilização turística da vasta área cujo destino era ser o paraíso dos visitantes da cidade, segundo fora amplamente anunciado.”
Com mais clareza não podia se expressar o poeta Jehová, os jornais, sabemos todos, vivem da matéria paga e não da venda avulsa.
Olhando a pose varonil do delegado na foto do matutino, Cármen, a esposa, née Sardinha e Sardinha se mantendo no áspero carácter, comentou, depreciativa:
- Machão, hem? O rei das marafonas castigando suas súbditas! A polícia está lhe fazendo bem, meu pequeno Hélio, você está virando homem.
De qualquer maneira, apesar de detalhes tão desagradáveis, o delegado recolheu da actuação da véspera motivos de contentamento. Bada, tendo lido os jornais, foi comovente ao telefone. Meu herói! Correu perigo? Me conta hoje à tarde? No lugar combinado às quatro? Meu Bonaparte!
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Por volta das onze da manhã, o delegado Hélio Cotias salta do automóvel na Delegacia de Jogos e Costumes. Manda buscar no depósito as raparigas presas.
Os homens tinham sido soltos pela madrugada, entre empurrões e protestos, dois deles em cuecas. Haviam apanhado um pouco para não mais tentarem obstaculizarem a acção da polícia. Uns tabefes, coisa leve.
Surra mesmo, das boas, de encaroçar, tomou a negra Domingas, metera-se a valente durante o sururu, enfrentando os tiras. Ficou moída a cara lustrosa e apetecível virou uma pasta feia e opaca. (click na imagem)
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