TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 276
Numa pocilga do Taboão, o investigador Nicolau Ramada júnior, Peixe Cação de notória fama, conversa negócios com Heron Madruga, ilustre químico pernambucano. Acaba de lhe pagar metade do combinado pelo fornecimento de quinhentas doses de “Cacete Rijo” preparado para. “One dose five fucks”.
Prestigioso cientista, largamente conhecido no sertão e em algumas capitais, Heron Madruga começou a se interessar pela química e pela farmacologia quando empregado em Recife no Laboratório de Análises dos Dóris e Paulo Loureiro, mulher e marido, competentíssimos um e outro.
Passando as manhãs a recolher urina, cocó e sangue de clientes, o fim da tarde a entregar exames e a cobrar contas. Madruga dedicava todo o tempo livre a admirar os sais e os ácidos a se misturarem nas provetas, nos balões de vidro, nas pipetas, nos beckers, nos tubos de ensaio do laboratório, cheiros fortes, cores estranhas, fumaça azul, coisa mais linda. Aprendeu termos e fórmulas.
Perdendo a contenção, não se ateve a apropriar-se, de quando em quando, do pagamento de um exame sumário de urina, embolsou dois mielogramas, vendo-se de súbito descoberto e despedido. Triste, pois estimava a patroa e o patrão, gente óptima. Deu-se conta no entanto de estar formado em Química, Farmácia e Medicina, em condições de concorrer para aliviar os sofrimentos da humanidade. Melhor dito, dos viventes em geral, pois em certas ocasiões exerceu a medicina veterinária, e não fez feio. Levou dentada de cachorro, coice de cavalo, a ciência tem percalços.
Alguns produtos de fórmula e fabricação suas, exclusivas gozaram de indiscutível prestígio entre as populações rurais e em pequenos centros urbanos do Nordeste, vendidos em feiras e mercados. O “Elixir Lava Peito”, de comprovada excelência contra qualquer moléstia dos brônquios e pulmões, liquidou epidemias de gripe em Pernambuco e curou muita tísica crónica em Alagoas. A garrafada “Maravilha do Capiberibe” limpa o corpo de qualquer infecção, inclusive o câncer e a gonorreia.
Quanto a “Cacete Rijo”, é o que se sabe: tesão fantástico. Segundo o próprio Madruga, no discurso de apresentação do meritório produto à clientela, atento auditório das feiras e das praças públicas, um velho centenário, depois de tomar a dose prescrita, levantou-se do leito da morte, descabaçou uma donzela, deu quatro pitocadas em seguida e na quinta lhe fez um par de filhos. Morreu feliz de priapismo.
A ideia do rótulo em inglês – letras vermelhas sobre fundo negro, APHRODISIAC: ONE DOSE 5 FUCKS – pertencia a Madruga, a tradução ao detective Coca, um poliglota, professor também dos camelôs aos quais ensinara como cobrar ao menos um dólar por uma camisa-de-vénus ou um frasquinho de “Cacete Rijo”. Aos capitães da areia não precisou de ensinar nada, falavam todas as línguas, riam com todos os dentes, esfarrapados, esqueléticos, invencíveis moleques, donos imemoriais das ruas da Bahia.
Dentro em pouco o comissário Labão mandará buscar a mercadoria, pois os navios já estão à vista do farol de Itapoã, avisa Peixe Cação.
- Chegam hoje?
- Estão chegando.
- E as mulheres, vão abrir os balaios?
- Que história é essa?
(click na imagem)
Prestigioso cientista, largamente conhecido no sertão e em algumas capitais, Heron Madruga começou a se interessar pela química e pela farmacologia quando empregado em Recife no Laboratório de Análises dos Dóris e Paulo Loureiro, mulher e marido, competentíssimos um e outro.
Passando as manhãs a recolher urina, cocó e sangue de clientes, o fim da tarde a entregar exames e a cobrar contas. Madruga dedicava todo o tempo livre a admirar os sais e os ácidos a se misturarem nas provetas, nos balões de vidro, nas pipetas, nos beckers, nos tubos de ensaio do laboratório, cheiros fortes, cores estranhas, fumaça azul, coisa mais linda. Aprendeu termos e fórmulas.
Perdendo a contenção, não se ateve a apropriar-se, de quando em quando, do pagamento de um exame sumário de urina, embolsou dois mielogramas, vendo-se de súbito descoberto e despedido. Triste, pois estimava a patroa e o patrão, gente óptima. Deu-se conta no entanto de estar formado em Química, Farmácia e Medicina, em condições de concorrer para aliviar os sofrimentos da humanidade. Melhor dito, dos viventes em geral, pois em certas ocasiões exerceu a medicina veterinária, e não fez feio. Levou dentada de cachorro, coice de cavalo, a ciência tem percalços.
Alguns produtos de fórmula e fabricação suas, exclusivas gozaram de indiscutível prestígio entre as populações rurais e em pequenos centros urbanos do Nordeste, vendidos em feiras e mercados. O “Elixir Lava Peito”, de comprovada excelência contra qualquer moléstia dos brônquios e pulmões, liquidou epidemias de gripe em Pernambuco e curou muita tísica crónica em Alagoas. A garrafada “Maravilha do Capiberibe” limpa o corpo de qualquer infecção, inclusive o câncer e a gonorreia.
Quanto a “Cacete Rijo”, é o que se sabe: tesão fantástico. Segundo o próprio Madruga, no discurso de apresentação do meritório produto à clientela, atento auditório das feiras e das praças públicas, um velho centenário, depois de tomar a dose prescrita, levantou-se do leito da morte, descabaçou uma donzela, deu quatro pitocadas em seguida e na quinta lhe fez um par de filhos. Morreu feliz de priapismo.
A ideia do rótulo em inglês – letras vermelhas sobre fundo negro, APHRODISIAC: ONE DOSE 5 FUCKS – pertencia a Madruga, a tradução ao detective Coca, um poliglota, professor também dos camelôs aos quais ensinara como cobrar ao menos um dólar por uma camisa-de-vénus ou um frasquinho de “Cacete Rijo”. Aos capitães da areia não precisou de ensinar nada, falavam todas as línguas, riam com todos os dentes, esfarrapados, esqueléticos, invencíveis moleques, donos imemoriais das ruas da Bahia.
Dentro em pouco o comissário Labão mandará buscar a mercadoria, pois os navios já estão à vista do farol de Itapoã, avisa Peixe Cação.
- Chegam hoje?
- Estão chegando.
- E as mulheres, vão abrir os balaios?
- Que história é essa?
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