sexta-feira, dezembro 09, 2011

TEREZA

BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA





Episódio Nº 278



Dois desenhos de Kalil, ilustrações para poemas de Telmo Serra, amigo do peito e poeta imenso (superado na opinião de Tom Lívio), foram publicados no suplemento dominical de um matutino, nas duas ocasiões os autores comemoraram nos botequins da zona a glória incipiente com cerveja e elogios mútuos.

No fim da noite a roda de boémios se dissolve, uns vão dormir em casa, outros se dirigem a pensões de mulheres-da-vida onde, após um dia corrido de trabalho, as raparigas aguardam a hora dos xodós, dos rabichos, do amor. Por vezes quando é maior a concorrência de fregueses, Kalil deve esperar nas escadarias da Igreja do Rosário dos Negros o sinal de trânsito livre na janela de Anália. A astuciosa agita uma toalha branca, Kalil se precipita.

Na noite da proclamação de guerra, Anália abandonou o posto antes da hora, acompanhando as demais colegas. Junto com Kalil percorreu a zona levando por toda a parte a declaração do balaio fechado. Alegre Anália a bater palmas:

- Com essa história de fechar o balaio, amanhã vou poder ver o desfile dos colegas na festa da Primavera. Faz um tempão que não vejo. Sabe que, em Estância eu desfilei com o Grupo Escolar? Fui a baliza. Amanhã não perco.

- Subdesenvolvida! – Apaixonado Kalil, que fizeste dos princípios e das convicções? - Iremos juntos. Tomara faça um dia bonito.

A manchete do vespertino ocupa todo o alto da primeira página. Para expressar a verdade completa, o redactor deveria ter arredondado a frase:
CIDADE EM FESTA – A PRIMAVERA, OS MARINHEIROS E AS RAPARIGAS

38

O detective Dalmo Garcia deixa os dois fulanos esperando no carro – um velho Buick de propriedade de um deles, o cego de um olho, conhecido entre os marginais por Camões fumaça – galga as escadas que conduzem à porta do bordel, faz um calorão no começo da tarde. A porta está fechada, aquela porta eternamente aberta, a partir das treze horas, à grande massa de fregueses.

O detective bate, chama, ninguém atende. Diante da porta trancada, Dalmo Coca dá-se conta de repente da total ausência de mulheres no Maciel. Apesar de ser ainda cedo, já devia haver alguma animação, seios expostos nas janelas, as prematuras do trotuar de bolsinha em punho pelas ruas, o início de mais um dia de trabalho. Nada disso, apenas transeuntes ocasionais, nem uma só rapariga à vista. O bordel fechado.

O detective Dalmo (Coca) Garcia não entende. Mais uma vez esmurra a porta, grita por Vavá. Não obtém resposta. Desce a escada, entra no automóvel. Camões Fumaça quer saber:

- E então?

Mesmo estando em companhia de um servidor da ordem pública, policial lotado na Especializada, não se considera em segurança. Para começar, não confia em Dalmo, secreta não tem moral, mesmo sendo viciado em drogas. Cadê o dinheiro prometido? O detective ficara de se encontrar com eles no fim da tarde, levando a quantia estipulada, em cobre alto. Aparecera logo depois do almoço, sem tostão, simulando alvoroço.

Os navios estão chegando, cadê a maconha? Apressado e ameaçador: depressa senão quiserem pagar caro. Camões Fumaça começa a sentir certo mal-estar:

- E então? – Repete a pergunta, imaginando o pior.



(click na imagem)

Site Meter