quinta-feira, dezembro 22, 2011

TEREZA

BATISTA

CANSADA

DE

GUERRA




Episódio Nº 289



No sobrado, a equipa encarregada das vendas, tendo completado a divisão do precioso material, sob competente comando de Cincinato Gato Preto, ficara na indolência, a guardar tanta maconha e proibida de usá-la, uma malvadez.

A maior pare dos móveis trazidos na véspera da Barroquinha no camião da Polícia e ali abandonada tinha sido requisitada por vagabundos e mendigo0s, no correr do dia. Restavam alguns colchões, foram transportados para a sala e neles os rapazes se estenderam para esperar. Longa espera, irresistível visão dos cigarros de maconha.

Em breve debate puseram-se de acordo a respeito de constituir evidente absurdo a restrição ditada pelo detective Dalmo Coca. A quem ofenderiam queimando um ou dois cigarros enquanto aguardam? Que mal há nisso? Nenhum, evidentemente. Cincinato Gato Preto, moço de reconhecida seriedade nos compromissos assumidos, acabou por concordar, também ele sentindo-se necessitado.

Voluptuosamente reclinados nos colchões, fumam e sonham quando Camões Fumaça e o meia-foda invadem a sala. Cincinato Gato Preto ama a tranquilidade na hora da viagem. Levanta a cabeça, fita os recem-chegados e os reconhece. Vieram, com certeza trazer o recado do chefe Coca:

- Está na hora?

Camões explica o fracasso do negócio montado pelo detective. A zona virou um inferno, pancada, correrias, tiros, nem um maluco fugido do hospício pensaria em vender erva com a cavalaria e a polícia concentradas no local, a cana comendo.

Ouviram na rádio do carro. Céptico, Cincinato não acredita numa palavra da lengalenga de Camões que termina por anunciar:

- Não nos pagaram nem um tostão, vamos levar nossa mercadoria.

- Levar uma porra! Gato Preto faz um esforço, senta-se no colchão, repete. – Levar uma porra!

Camões Fumaça, sob o efeito da maconha, é o pai da valentia:

- Porra você vai engolir agora mesmo, seu escroto.

Alguns maconheiros põem-se de pé, o rolo começa. O pigmeu puxa de uma navalha, investe. Um cigarro aceso rola no colchão furado, cai na palha seca. A fumaça se estende, logo as labaredas

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No Pelourinho, onde entraram em ofensiva os exércitos da moral e da lei sob o comando do detective de primeira classe Nicolau Ramada Júnior, o quadro se assemelha ao do Maciel: mulheres batidas, arrancadas das casas, trazidas para a praça, encurraladas, perseguidas pela cavalaria.

Ali é mais difícil esconder-se, escapar, as saídas das ruas para o Terreiro de Jesus e a Baixa dos Sapateiros estão tomadas pelos carros da polícia. O pau canta com vontade, as ordens são de bater até que as criminosas se decidam a fazer a vida, a abrir os balaios. Está em plena execução o Retorno Alegre ao Trabalho.

A invasão da casa principal de dona Paulina de Sousa, dirigida pessoalmente por Peixe Cação, acrescentou aos detalhes da batalha, a novidade das barricadas. Não confiando na resistência das fechaduras, as renegadas encostaram pesados móveis na porta, fazendo ainda mais difícil aos policiais o cumprimento do dever, levando o irritado Nicolau ao cúmulo da raiva. ( click na imagem)

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