sexta-feira, dezembro 30, 2011

TEREZA


BATISTA


CANSADA


DE


GUERRA


Episódio Nº 295



Contudo, alguma coisa se salva do desastre, Bada, conquista a situá-lo entre os galãs da cidade, os garanhões de mulheres casadas e difíceis. Casada, sim, mas difícil? Furor uterino, conquista barata, quantos amantes não a tiveram nos braços e não a possuíram antes dele? Um regimento, sem dúvida. O cargo, a família, a amante, motivos de tanta inveja, na aparência a glória, em realidade melancolia e frustração. As mulheres, seviciadas, a negra com a cara podre de golpes, os lábios partidos, as equimoses pelo corpo. Os olhos assassinos do comissário. Tudo isso para quê? Para no fim soltar as caftinas, suspender a mudança.

Na ponta da mesa o rádio deixa de transmitir notícias da batalha do balaio para anunciar um grande incêndio na Cidade Baixa a devorar os casarões da Ladeira do Bacalhau.

O delegado tapa a boca com a mão, abandona o gabinete, passa a correr ante o guarda espantado. Mal tem tempo de atingir o sanitário, vomita bílis amarga e verde.

Solene, amável porém superior como convém a um emissário de Sua Excelência, o Senhor Governador penetra no gabinete vazio do delegado de Jogos e Costumes o vereador Reginaldo Pavão.

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Colossal incêndio destrói os casarões da Ladeira do Bacalhau! – informa a Rádio Abaeté, a notícia pegando fogo. Os velhos sobrados designados pela polícia para nova residência das rameiras ontem retiradas da Barroquinha estão sendo rapidamente devoradas pelas chamas. Os carros do Corpo de Bombeiros dirigem-se para o local do sinistro e com ele seguem os nossos microfones. Ainda são desconhecidas as causas do incêndio mas, ontem, grande quantidade de móveis e de outros pertences das marafonas foram conduzidos, ao que consta, em caminhões da polícia para os casarões do Bacalhau e ali abandonados.

Haverá alguma ligação entre a pavorosa fogueira a arder em frente do porto e a situação cada vez mais grave da zona do meretrício, onde as forças de segurança pública revelam-se impotentes para conduzir as prostitutas ao trabalho?

Neste 21 de Setembro, data inaugural da Primavera, a cidade vive horas de inquietação e sobressalto. As barcas conduzindo os marinheiros americanos preparam-se para largar dos navios, rumo ao cais de desembarque. Toda a prudência é pouca, recomendamos às famílias manterem-se em casa trancando portas e janelas ao menor sinal de desordem. Deposite as suas economias no Banco Interestadual da Bahia e Sergipe e durma tranquilo. Mantenha-se na onda da Rádio Abaeté à espera de novas e sensacionais notícias.

Desmaiam senhoras, uma velha é conduzida ao pronto-socorro, o coração disparado. Fechando portas e janelas com tristeza, para obedecer aos ditames da cunhada, suspira Veralice, solteirona aflita: ai quem me dera uma invasão de marinheiros em atraso, frenesi e desacato. Estou às ordens, diria ao jovem ianque, loiro e potente, faça-me a festa, se aproveite, rompa e rasgue!

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Enquanto o delegado Hélio Cotias vomita a alma antes de ordenar a libertação da velha Acácia, Assunta e as demais caftinas da Barroquinha, no Pelourinho as portas da Igreja do Rosário dos Negros se abrem de par em par e as mulheres surgem, dezenas e dezenas de raparigas que se haviam refugiado no interior do templo. Avançam lentamente.

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