quarta-feira, fevereiro 22, 2012

GABRIELA

CRAVO
E
CANELA





Episódio Nº 29



- Mas o árabe não se interessou, estava distante de toda aquela discussão, capaz de empolgá-lo noutro momento.

Voltado para seu problema – o bar sem cozinheira, um desastre! – apenas abanou a cabeça às palavras do amigo.

- Você está jururu. Porquê essa cara de enterro?

- Minha cozinheira foi embora…

- Ora que motivo… - Capitão voltou-se para a discussão, cada vez mais exaltada, reunindo agora várias pessoas em torno do grupo.

Ora que motivo… ora que motivo… Nacib afastou-se uns passos como a colocar distância entre ele e a discussão perturbadora. A voz do Doutor cruzava-se, oratória, com a voz macia mas firme do coronel Amâncio. Que lhe importavam a Intendência de Ilhéus, deputados e senadores!

Importava-lhe, sim, o jantar do dia seguinte, trinta talheres. As irmãs Dos Reis, se aceitassem a encomenda, iam pedir um dinheirão. E logo quando tudo ia tão bem…

Quando ele comprara o bar Vesúvio, situado na Praça de São Sebastião, em zona residencial, distante – distante, não, que as distâncias em Ilhéus eram ridículas – afastado do centro comercial, do porto, onde estavam os seus maiores concorrentes, alguns amigos e seu tio consideraram que ele ia cometer um loucura. O bar andava numa decadência medonha, vazio, sem freguesia, às moscas.

Prosperavam os botequins do porto, afreguesados. Mas Nacib não queria continuar a medir pano no balcão da loja onde trabalhava desde a morte do pai. Não gostava daquele trabalho, muito menos da sociedade com o tio e o cunhado (sua irmã casara com um agrónomo da Estação Experimental de Cacau).

Enquanto o pai era vivo, a loja ia bem, o velho tinha iniciativa, era simpático. Já o tio, homem de família grande e métodos rotineiros, marcava passo, medroso, contentando-se com pouco. Nacib preferiu vender a sua parte, andou fazendo o dinheiro render nus perigosos negócios de compra e venda de cacau, terminou adquirindo o bar. Comprara de um italiano, ia fazer cinco anos. O italiano metera-se pelo interior na alucinação do cacau.

Bar era bom negócio em Ilhéus, melhor só mesmo cabaré. Terra de muito movimento, de gente chegando atraída pela fama de riqueza, multidão de caixeiros viajantes enchendo as ruas, muita gente de passagem, quantidade de negócios resolvidos nas mesas dos bares, o hábito de beber valentemente e o costume levado pelos ingleses, quando da construção da Estrada de Ferro, do aperitivo antes do almoço e do jantar, disputado no pocker de dados, hábito que se estenderá a toda a população masculina.

Antes do meio-dia e depois das cinco da tarde os bares superlotavam.

O bar Vesúvio era o mais antigo da cidade. Ocupava o andar térreo de um sobrado de esquina numa pequena e linda praça em frente ao mar, onde se erguia a Igreja de São Sebastião. Na outra esquina inaugurara-se recentemente, o Cine-Teatro Ilhéus.

Não se devia a decadência do Vesúvio à sua localização fora das ruas comerciais, onde prosperavam o Café Ideal, o Bar Chic, o Pinga de Ouro, de Plínio Araçá, os três principais concorrente de Nacib.

Devia-se, sobretudo ao italiano, de cabeça voltada para as roças de cacau.





(Click em Ihéus, a que chamam "Princezinha do Sul". Já foi o 1º produtor de cacau do mundo mas devido a uma enfermidade na planta conhecida cobo "vassoura-de-bruxa" a produção baixou muito.)

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