sábado, março 17, 2012

GABRIELA

CRAVO
E
CANELA






Episódio Nº 50




- Você mesmo disse: o Ministro tem de atender ao Governador. O Governo não tem interesse, os políticos daqui são umas zebras. Os coronéis não enxergam um palmo adiante do nariz. Para eles, é plantar e colher cacau. O resto não interessa. Elegem uns idiotas para a Câmara, votam em quem Ramiro Bastos ordena.

A Intendência vai das mãos de um filho para as de um compadre de Ramiro.

- Mas o coronel sempre faz alguma coisa…

- Calça ruas, abre praças, planta flores. E fica nisso. Estradas? Nem pensar. Já construir a estrada de rodagem para Itabuna foi uma luta. Que tinha compromissos com os ingleses da Estrada de Ferro, patati, patata… A barra? Tem compromisso com o Governador… Como se Ilhéus houvesse parado há vinte anos…

Agora era Mundinho que ouvia em silêncio. O Capitão falava com um acento de paixão, querendo convencer.

Mundinho pensava: ele tinha razão, as necessidades dos coronéis já não correspondiam às da terra, em rápido progresso.

- Você não deixa de ter razão…

- É claro que tenho – bateu no ombro do exportador.

- Meu caro, mesmo que você não quisesse, não tinha outro jeito que não fosse meter-se em política.

- E porquê?

- Porque Ilhéus exige, seus amigos, o povo!

O Capitão falara solene, estendera o braço como se estivesse discursando. Mundinho Falcão acendeu um cigarro:

- É uma coisa a pensar… - E via-se chegando à Câmara Federal, eleito deputado pela terra do cacau, assim como dissera a Emílio.

- Você nem imagina… - O Capitão voltava a sentar-se, satisfeito consigo mesmo… - Não se fala noutra coisa.

Todos os que se interessam pelo progresso de Ilhéus, de Itabuna, da zona toda. Tanta gente, você nem pode calcular.

- É uma coisa a discutir-se, não digo sim nem não. Nem quero me meter numa aventura ridícula.

- Aventura? Se eu lhe disser que vai ser fácil, que não vai haver luta, estarei lhe mentindo. Vai ser uma dureza, não há dúvida. Mas uma coisa é certa: podemos ir longe.

- É uma coisa a pensar… - repetiu Mundinho Falcão.

O Capitão sorriu. Mundinho estava interessado, daí a comprometer-se era um passo. E em Ilhéus apenas Mundinho Falcão, ele e mais ninguém, podia fazer frente ao poder do coronel Ramiro Bastos, apenas ele podia vingar o Capitão.

Os Bastos não haviam desbancado o velho Cazuzinha, levando-o a arruinar-se em inglória luta política, deixando o Capitão sem vintém a herdar, na dependência de emprego público.

Mundinho Falcão sorriu, o Capitão ali estava a oferecer-lhe o poder, ou, pelo menos, os meios para alcança-lo. Como ele desejava.



(Clicik na imagem)

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