segunda-feira, abril 09, 2012

GABRIELA

CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 69





Consultório bem montado na sala da frente, mas o fazendeiro encontrou a esposa foi no quarto, vestida, apenas – como contava Ari e constou nos Autos – com “depravadas meias pretas”.

Quanto ao Dr. Osmundo Pimentel, estava completamente descalço, sem meias de qualquer cor nem nenhum outro traje a cobrir-lhe a arrogante juventude conquistadora.

O fazendeiro disparou dois tiros em cada um, definitivos. Homem de pontaria louvada, acostumado a acertar balas no escuro das estradas em noites de barulhos e tocaias.

Nacib não tinha mãos a medir. Chico Moleza a Bico Fino iam de mesa em mesa no bar cheio, servindo a uns e a outros, pescando de quando em vez um detalhe das conversas.

O negrinho Tuísca ajudava, preocupado em saber quem lhe pagaria a conta semanal de doces do dentista, em cuja casa, todas as tardes, deixava bolo de milho e de aipim, cuscuz de mandioca também. De quando em vez, olhando o bar superlotado, consumidos já os bolos e salgados do tabuleiro já enviado pelas irmãs Dos Reis, Nacib praguejava contra a velha Filomena.

Logo num dia desses, de tantas novidades e tamanhos acontecimentos, ela achara de ir embora, deixando-o sem cozinheira. Indo de mesa em mesa, participando nas conversas, bebendo com os amigos, o árabe Nacib não podia se entregar por completo ao prazer dos comentários sobre a tragédia, como desejaria e certamente o faria se a preocupação da cozinheira não o afligisse.

Histórias como aquela, de amores ilícitos e vingança mortal, com detalhes tão suculentos, meias pretas, meu Deus!, não aconteciam todos os dias. E ele obrigado a sair daí a pouco em busca de cozinheira no meio dos retirantes chegados ao “mercado dos escravos”.

Chico Moleza, preguiçoso incurável, passava com copos e garrafas, ouvidos alertas, parando para escutar. Nacib apressava.

- Anda preguiça…

Chico parava ante as mesas, também ele era filho de Deus, queria ele também ouvir as novidades, saber das “meias pretas”.

- Finíssimas, meu caro, estrangeiras… - Ari santos acrescentava detalhes. – Mercadoria que não existe em Ilhéus…

- Certamente foi ele que mandou vir da Bahia. Da loja do pai.

- O quê! – O Coronel Manuel das Onças deixava cair o queixo de espanto. – Se vê cada uma nesse mundo…

- Tavam embolados quando Jesuíno entrou. Nem ouviram… - E isso que a criada, quando viu Jesuíno deu um grito…

- Nessa hora não se ouve nada… - disse o Capitão.

- Bem feito! O Coronel fez justiça…

Dr. Maurício parecia já sentir-se no júri:

- Fez o que faria qualquer um de nós, num caso desses. Obrou como homem de bem: não nasceu para cabrão, e só há uma forma de arrancar os chifres, a que ele utilizou.



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