terça-feira, abril 17, 2012

GABRIELA

CRAVO

E

CANELA




Episódio Nº 76




Os cabras do coronel chegaram no princípio da noite, beberam acintosamente uma cachaças no bar mal frequentado de Toinho Cara de Bode, resmungaram ameaças e partiram para a casa da Chiquinha.

Jogavam os amantes jogos de amor no leito pago pelo coronel, apaixonados e confiantes, sorrindo um para o outro, felizes. Os vizinhos próximos ouviram risos e suspiros entrecortados, de quando em vez a voz de Chiquinha num gemido: “Ai meu amor!”.
Os cabras entraram pelo quintal, os vizinhos próximos e distantes ouviram novos rumores, toda a rua acordou com os gritos, nem um se reuniu frente à casa.

Foi, segundo contam, surra de criar bicho, no rapaz e na moça, e rasparam o cabelo dos dois, de tranças compridas o de Chiquinha, ondeado e louro o de Juca Viana, e lhes deram ordens, em nome do indignado coronel de desaparecer naquela mesma noite e para sempre de Ilhéus.

Juca Viana era agora promotor em Jequié, nem mesmo depois de formado voltara a Ilhéus. De Chiquinha não se teve mais notícia.

Conhecendo esta história quem se atreveria a transpor sem prévio convite do coronel a soleira da porta de rapariga sua? Sobretudo a pesada porta da casa de Glória, a mais apetitosa, a mais esplêndida, de quantas mancebas abrigara Coriolano?

O coronel envelhecera, a sua força política já não era a mesma, mas a lembrança do exemplo de Juca Viana e Chiquinha persistia e o próprio Coriolano encarregava-se de relembrá-lo quando isso lhe parecia necessário.

Recentes eram os sucessos ocorridos no cartório de Tonico Bastos.

De simpático Vilão

Tonico Bastos, o homem por excelência elegante da cidade, olheiras negras e romântica cabeleira de fios prateados, o paletó azul e a calça branca, os sapatos brilhando de lustro, um verdadeiro dândi, entrava no bar com o seu ar despreocupado quando vinham de pronunciar seu nome.

Fez-se um silêncio incómodo na roda, ele perguntou suspeitoso.

- De que falavam? Ouvi meu nome…

- De mulheres, de que havia de ser? – Disse João Fulgêncio. – E, falando-se de mulheres, seu nome veio à baila. Como não podia deixar de acontecer…

Abriu-se o rosto de Tonico num sorriso, puxou uma cadeira, aquela fama de conquistador, de irresistível, era a sua razão de viver. Enquanto o irmão Alfredo, médico e deputado, examinava crianças em seu consultório em Ilhéus, fazia discursos na Câmara, na Bahia, ele trocava pernas pelas ruas, metendo-se com raparigas, corneando os fazendeiros nos leitos das concubinas.

Mulher nova desembarcada na cidade, sendo bonita, logo encontrava Tonico Bastos rodando em torno de sua saia, dizendo-lhe galanteios, gentil e ousado.

A verdade é que tinha sucesso e multiplicava esse sucesso nas conversas sobre mulheres. Era amigo de Nacib e vinha em geral na hora da sesta, quando o bar cochilava vazio, espantara o árabe com suas histórias, suas conquistas, e ciumeira de mulheres por sua causa.

Não havia em Ilhéus pessoa a quem Nacib tanto admirasse.
(Click na imagem)

Site Meter