sexta-feira, abril 20, 2012

GABRIELA
CRAVO
E
CANELA


Episódio Nº 79


O árabe Nacib triunfava, sorria, olhava com carinho seus fregueses. Gostava daquela profissão de dono de bar, daquelas prosas, discussões, das partidas de gamão e damas, do joguinho de pocker.

 - Vamos à nossa partida… -  convidava o capitão.
 - Hoje, não. Muito movimento. E daqui a pouco vou sair, procurar cozinheira.

O Doutor aceitou, foi sentar-se com o Capitão ante o tabuleiro. Nhô-Galo foi um deles, jogaria com o vencedor. Enquanto batiam as pedras, o Doutor ia contando:

 - Houve um caso parecido com um dos Ávilas…

Meteu-se com a mulher de um capataz, foi um escândalo, o marido descobriu…

 - E capou seu parente?

 - Quem falou em castrar? O marido apareceu armado só que meu bisavô atirou antes dele…

 A roda dissolvia-se aos poucos, aproximava-se a hora do jantar. Vindos do hotel para o cinema, surgiam, como pela manhã, Diógenes e o casal de artistas.

Tonico Bastos queria detalhes:

 - Exclusividade de Mundinho?

Do tabuleiro do gamão, sentindo-se um pouco senhor dos actos de Mundinho, o Capitão informava:

 - Não, não tem nada com ela. Está livre como um passarinho, à disposição…

Tonico assobiou entre dentes. O casal dava boa-tarde. Anabela sorria.

 - Vou até lá, cumprimentá-la em nome da cidade…

 - Não misture a cidade nisso, seu malandro.

 - Cuidado com a navalha do marido… - riu Nhô-Galo.

 - Vou com você, disse o coronel Ribeirinho.

Mas não chegaram a ir, pois apareceu o coronel Amâncio Leal e a curiosidade foi mais forte: sabiam todos ter-se Jesuíno homiziado em sua casa, após o crime. Saciada sua vingança, retirara-se o coronel calmamente, para evitar o flagrante.

Atravessara a cidade movimentada pela feira, sem apressar o passo, fora para casa do amigo e companheiro dos tempos dos barulhos, mandara avisar o juiz que no outro dia se apresentaria. Para ser imediatamente enviado em paz, aguardar em liberdade o julgamento, como era costume em casos idênticos.

O coronel Amâncio procurava alguém com os olhos, aproximou-se do Dr. Maurício:

 - Podia dar-lhe uma palavra, Doutor?

Levantou-se o advogado, andaram os dois para os fundos do bar, o fazendeiro dizia algo, Maurício balouçava a cabeça, voltava para buscar o chapéu:

 - Com licença. Devo retirar-me.

O coronel Amâncio cumprimentava.

 - Boa tarde, senhores.

Tomavam pela Rua Coronel Adami, morava Amâncio na Praça do Grupo Escolar. Alguns, mais curiosos, puseram-se de pé para vê-los subindo a rua, silenciosos e graves como se acompanhassem procissão ou enterro.


Site Meter