quinta-feira, abril 19, 2012

GABRIELA CRAVO E CANELA

Episódio Nº 78



 - O que é que você me diz do crime? Perguntou Nhô-Galo.

 - Que horror, hem! Uma coisa assim…

Contaram-lhe das meias pretas. Tonico pinicou um olho entendido. Voltavam a relembrar casos semelhantes, o do coronel Fabrício, que esfaqueara a mulher e mandaram os jagunços atirar no amante quando ele voltava de uma reunião na Maçonaria. Costumes cruéis, tradição de vingança e sangue. Uma lei inexorável.

Também o árabe Nacib, apesar de suas preocupações – os doces e salgados das irmãs Dos Reis tinham-se evaporado – participava da conversa. E, como sempre, para dizer que na Síria, terra de seus pais, era ainda mais terrível.

Parado, junto à mesa, de pé, o corpanzil enorme, dominava a assistência. O silêncio se estendia pelas outras mesas, para melhor ouvi-lo.

 - Na terra de meu pai ainda é pior… Lá, honra de homem é sagrada, com ela ninguém brinca. Sob pena de…

 - De quê, árabe?

Passava o olhar demoradamente pelos ouvintes, seus fregueses e amigos, tomava um ar dramático, avançava a cabeçorra:

 - Lá, mulher sem vergonha se acaba é à faca, devagarinho. Cortando em pedacinhos…

 - Em pedacinhos? - A voz fanhosa de Nhô-Galo.

Nacib aproximava o rosto balofo, as grandes bochechas cândidas, armava uma cara assassina, torcia a ponta do bigode:

 - Sim, compadre Nhô, lá ninguém se contenta em matar a desavergonhada, com essa coisa de dois ou três tirinhos nela e no safardana. Lá é terra de homem macho e para mulher descarada o tratamento é outro; cortar a peste em pedacinhos, começando do bico dos peitos…

- Do bico dos peitos, que barbaridade! – Até o coronel Ribeirinho sentia-se estremecer.

 Que barbaridade nem nada! Mulher que trai o marido não merece menos. Eu, se fosse casado e minha mulher me iluminasse a testa, ah! Comigo era na lei síria: picadinho com o corpo dela… não faria por menos.

E o amante? – interessou-se o Dr. Maurício Caíres impressionado

 - O manchador da honra alheia? – Ficou parado, quase tenebroso, levantou a mão, riu, um pequeno riso caso – O miserável, ah!... Bem seguro por uns quantos homens, desses sírios rijos das montanhas, tiram-lhe as calças, afastam-lhe as pernas… e o marido com a navalha da barba bem afiada…Baixava mão num gesto rápido, descrevendo o resto.

 O quê! Não me diga!

 Isso doutor. Capadinho da silva…


oão Fulgêncio passou a mão no queixo:

 - Estranhos costumes, Nacib. Enfim cada terra com seu uso…

 É o Diabo, –  disse o Capitão e fogosas como são essas turcas, deve haver muito culpado por lá…

 - Também quem se manda meter em casa alheia para roubar o que não é seu? – Dr. Maurício aprovava – É logo as honra de um lar,



Site Meter