sexta-feira, abril 27, 2012

GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 83


Coração romântico, as histórias terríveis que ele contava nada significavam. Nem o revólver que conduzia no cinto como qualquer homem em Ilhéus, naquele tempo.

Hábitos da terra… Ele gostava mesmo era de comer bem, bons pratos apimentados, beber sua cerveja geladinha, jogar uma apurada partida de gamão, atravessar uma madrugada chorando cartas no pocker, receoso de perder no jogo os lucros do bar que ele ia depositando no banco na esperança de comprar terras. De falsificar a bebida para ganhar mais, aumentar cuidadosamente uns mil-réis nas contas dos que pagavam por mês, de acompanhar os amigos ao cabaré, acabar a noite nos braços de uma Risoleta qualquer, xodó de alguns dias. Dessas coisas e das morenas queimadas na cor, ele gostava. De conversar também e rir.

De Como Nacib Contratou Uma Cozinheira ou dos Complicados Caminhos do Amor

Deixou para trás a feira, onde as barracas estavam sendo desmontadas, as mercadorias recolhidas. Atravessou por entre os edifícios da Estrada de Ferro.

Antes de começar o morro da Conquista ficava o “mercado de escravos”. Alguém assim apelidara, há tempo, o lugar onde os retirantes acampavam à espera de trabalho. O nome pegara, ninguém chamava de outra maneira. Amontoavam-se ali os sertanejos fugidos da seca, os mais pobres entre quantos deixavam suas casas e suas terras no apelo do cacau.

Fazendeiros examinavam a leva recente, o chicote batendo nas botas. Os sertanejos gozavam de fama de bons trabalhadores.

Homens e mulheres, esgotados e famélicos, esperavam. Viam a feira distante, onde havia de um tudo, uma esperança enchia-lhes o coração. Tinham conseguido vencer os caminhos, a caatinga, a fome e as cobras, as moléstias endémicas, o cansaço. Atingiam a terra fértil, os dias de miséria pareciam terminados.

Ouviam contar histórias espantosas, de morte e violência, mas sabiam do preço do cacau em alta, sabiam de homens chegados como eles do sertão em agonia e agora andando de botas lustrosas, empunhando chicotes de cabo de prata. Donos de roças de cacau.

Na feira explodia uma rixa, gente corria, uma navalha brilhava nos últimos raios de Sol, os gritos chegavam até ali. Todo o fim de feira era assim, com bêbedos e barulhos.

Do meio dos sertanejos subiam sons melodiosos de harmónica, uma voz de mulher cantava toadas.

O coronel Melk Tavares fez um sinal ao tocador de harmónica, o instrumento silenciou:

 - Casado?

 - Inhô, não.

 - Quer trabalhar para mim? – Apontava outros homens já seleccionados por ele. – Um bom tocador nunca é demais numa fazenda. Alegra as festas… – Ria convincente; dele diziam saber escolher como ninguém homens bons para o trabalho. Suas fazendas ficavam em Cachoeira do Sul. As grandes canoas estavam esperando ao lado da ponte da estrada de Ferro.

Do agregado ou de empreiteiro?

 - A escolher. Tenho umas matas a derrubar, preciso de empreiteiros. – Os sertanejos preferiam as empreitadas, o plantio de cacau novo. A possibilidade de ganhar dinheiro por sua conta e risco.
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