quarta-feira, maio 02, 2012


GABRIELA
CRAVO
CANELA

Episódio Nº 87



Da Canoa Na Selva





 - Diz que o coronel Jesuíno matou a mulher lá dele e um doutor que dormia com ela. É mesmo verdade, coronel? – perguntou um remeiro a Melk Tavares.

 - Também ouvi falar… – disse outro.

 - Verdade, sim. Apanhou a mulher na cama com o dentista. Despachou os dois.

 - Mulher é bicho ruim, faz a desgraça da gente.

A canoa subia o rio, a selva crescia nos barrancos, os sertanejos olhavam a paisagem inédita, um vago terror no coração. A noite precipitava-se das árvores sobre as águas, assustadora.

A canoa era quase um batelão de tão grande, descia carregada de sacos de cacau, voltava cheia de mantimentos. Os remeiros curvavam-se num esforço descomunal, avançavam lentamente. Um deles acendeu uma lamparina na popa: a luz vermelha criava sombras fantásticas no rio.

 Lá no Ceará sucedeu um caso parecido… – começou um sertanejo a contar.

- Mulher é enganadeira, a gente nunca sabe que coisa mulher tá maginando… Conheci uma, parecia uma santa, ninguém podia pensar… – lembrou o negro Fagundes.

Clemente ia silencioso. Melk Tavares puxava conversa com os novos agregados, querendo saber de cada um as qualidades e os defeitos de seus trabalhadores, seu passado.

Os sertanejos iam contando, as histórias assemelhavam-se, a mesma terra árida queimada pela seca, o milheiral, o mandiocal, perdidos a caminhada imensa. Eram sóbrios ao narrar. Chegavam por lá notícias de ilhéus: a terra rica, o dinheiro fácil. Lavoura de futuro, barulhos e mortes. Quando a seca batia, largavam tudo e rumavam para o sul. O negro Fagundes era mais falador, contava valentias.

Eles também desejavam saber:

 - Diz que tem ainda muita mata para derrubar…

Pra derrubar tem muita. Pra medir é que não tem mais. Tudo já tem dono. – riu um remeiro.

Mas ainda há dinheiro a ganhar, e muito, para um homem trabalhador – consolou Melk Tavares.


(Click na imagem de Gabriela, "moça bonita")

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