sábado, maio 05, 2012


GABRIELA CRAVO E CANELA 
Episódio Nº 90

_ Tomei de empregada. Pra lavar e cozinhar.

D. Arminda examinava a retirante, de alto a baixo, como a medi-la e a pesá-la. Oferecia seus préstimos:

 - Se precisar de alguma coisa menina, é só me chamar, não é? Só que hoje de noite não vou estar. É dia de sessão em casa do compadre Deodoro, dia de o finado conversar comigo…

É até capaz que dona Sinhàzinha apareça… – Seus olhos iam de Gabriela para Nacib – Moça, hem? Agora não quer mais velhas como Filomena… – Ria seu riso cúmplice.

 - Foi o que arranjei…

 - Pois como eu ia dizendo: para mim não foi surpresa: ainda o outro dia vi o tal dentista na rua. Por coincidência era dia de sessão, hoje faz uma semana direitinho.

Olhei para ele e ouvi a voz do finado no meu ouvido dizendo: «Tá aí, todo prosa, tá morto.» Pensei que o finado tava brincando. Só hoje quando soube, é que me dei conta, o finado tava-me avisando.

Voltava-se para Gabriela. Nacib já tinha entrado.

 - Qualquer coisa que precise, é só chamar. Amanhã a gente conversa. Tou aqui pra ajudar, seu Nacib é mesmo que parente. É patrão de meu Chico…

 - Nacib mostrou-lhe o quarto no quintal, antes ocupado por Filomena, explicara-lhe o serviço: arrumação da casa, lavagem de roupa suja, cozinhar para ele. Não falou dos doces e salgados para o bar, primeiro queria ver que espécie de comida ela sabia fazer.

Mostrara-lhe a dispensa, onde Chico Moleza deixara as compras da feira.

 - Qualquer coisa pergunte a D. Arminda.

Estava com pressa, a noite chegara, o bar em pouco ficaria novamente cheio e ele ainda devia jantar. Na sala, Gabriela, os olhos arregalados, olhava o mar nocturno, era a primeira vez que o via. Nacib disse-lhe em despedida:

 - E tome um banho, está precisada.

 No Hotel Coelho encontrou Mundinho Falcão, o Capitão e o Doutor jantando juntos. Sentou-se, naturalmente na, mesa deles, foi logo contando da cozinheira. Os outros ouviam em silêncio. Nacib compreendeu ter interrompido conversa importante. Falaram do crime da tarde, ele apenas iniciara o jantar quando os amigos, já no fim, se retiraram.

Ficou a reflectir. Aqueles três andavam arquitectando coisas. Que diabo seria?

O bar, naquela noite, não lhe deu descanso. Andou numa roda-viva, as mesas cheias, todo o mundo querendo comentar os acontecimentos. Por volta das dez horas o Capitão e o Doutor apareceram, acompanhados de Clóvis Costa, o director do Diário de Ilhéus. Vinham da casa de Mundinho Falcão, anunciaram que o explorador apareceria no Bataclan por volta da meia-noite para a estreia de Anabela. Clóvis e o Doutor conversavam em voz baixa, Nacib apurou o ouvido.

Noutra mesa, Tonico Bastos contava do jantar, verdadeiro banquete, em casa de Amâncio Leal. Com vários amigos de Jesuíno Mendonça, inclusive o Dr. Maurício Caíres, encarregado da defesa do coronel. Regabofe monumental, com vinho português, comida e bebida em abundância. Nhô-Galo achava aquilo um absurdo. Com o corpo da mulher ainda quente, não havia direito…
(Click na imagem e aumente)

Site Meter