quarta-feira, maio 09, 2012


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 93


 - Porcaria… A gente pensa que está vendo carne, é fazenda cor-de-rosa… comentou Nhô-Galo.

Sob aplausos, ela retirou-se para voltar minutos depois num segundo número mais sensacional ainda. Coberta de véus multicolores que iam caindo um a um, como anunciara Mundinho. E durante um breve minuto, quando caiu o último véu e as luzes novamente se acenderam, puderam ver o corpo magro e bem feito, quase nu, apenas uma tanga mínima e um trapo vermelho sobre os seios pequenos.

A sala gritava em coro, reclamava bis, Anabela passava correndo entre as mesas. O coronel Ribeirinho mandava descer champanhe.

Agora valeu a pena… Até Nhô-Galo estava entusiasmado.

Anabela e o Príncipe foram para a mesa de Mundinho Falcão.
“É tudo por minha conta” dizia Ribeirinho. A orquestra voltava a tocar, Dr. Ezequiel arrastava Risoleta, tombando sobre as cadeiras.

Nacib resolveu ir embora. Tónico Bastos, os olhos em Anabela, mudara-se para a mesa de Mundinho. Nhô-Galo desapareceu. A dançarina sorria, levantava a taça de champanhe:

 - À saúde de todos! Ao progresso de Ilhéus!

Batiam palmas, aplaudindo. Nas mesas vizinhas olhavam com inveja. Muitos iam para a outra sala jogar. Nacib desceu as escadas.

Atravessou as ruas silenciosas. Na casa do Dr. Maurício Caíres filtrava-se a luz pela janela. Devia estar começando a estudar o caso de Jesuíno, a preparar dados para a defesa, pensou Nacib, recordando os indignados propósitos do advogado no bar. Mas um riso de mulher saíu pelas frinchas da janela, morreu na rua.

Diziam que o viúvo levava, à noite, negrinhas do morro para sua casa. Ainda assim não podia Nacib adivinhar que àquela hora, talvez por interesse puramente profissional, exigia de uma cabrocha do Unhão, mulatinha banguela e espantada, deitar-se com umas meias pretas de algodão, vestida apenas com elas.

 - Se vê cada coisa nesse mundo… - A cabrocha ria por entre os dentes falhos e podres.

Nacib sentia o cansaço do dia trabalhoso. Tinha conseguido saber, finalmente, o motivo daquelas idas e vindas de Mundinho, dos segredos do Capitão com o Doutor, da entrevista secreta com Clóvis. Relacionavam-se com o caso da barra.

Surpreendera pedaços de conversas. Pelo que diziam, iriam chegar engenheiros, dragas, rebocadores. Doesse a quem doesse, grandes navios estrangeiros entrariam no porto, viriam buscar cacau, começaria a exportação directa. A quem podia doer? Não era, por acaso, a luta aberta com os Bastos, com o coronel Ramiro?

O Capitão sempre desejara mandar na política local. Mas não era fazendeiro, não tinha dinheiro para gastar. Estava explicada sua amizade com Mundinho Falcão, acontecimentos sérios se anunciavam.

O coronel Ramiro não era homem, apesar da idade, para cruzar os braços, entregar-se sem luta. Nacib não queria meter-se nessa história. Era amigo de uns e de outros, de Mundinho e do coronel, do Capitão e do Tonico Bastos. Dono de bar não pode envolver-se em política. Só traz prejuízo. Mais perigoso ainda que meter-se com mulher casada.
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