GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 93
- Porcaria… A
gente pensa que está vendo carne, é fazenda cor-de-rosa… comentou Nhô-Galo.
Sob aplausos, ela retirou-se para voltar minutos
depois num segundo número mais sensacional ainda. Coberta de véus multicolores
que iam caindo um a um, como anunciara Mundinho. E durante um breve minuto,
quando caiu o último véu e as luzes novamente se acenderam, puderam ver o corpo
magro e bem feito, quase nu, apenas uma tanga mínima e um trapo vermelho sobre
os seios pequenos.
A sala gritava em coro, reclamava bis, Anabela passava
correndo entre as mesas. O coronel Ribeirinho mandava descer champanhe.
Agora valeu a pena… Até Nhô-Galo estava entusiasmado.
Anabela e o Príncipe foram para a mesa de Mundinho
Falcão.
“É tudo por minha conta” dizia Ribeirinho. A orquestra
voltava a tocar, Dr. Ezequi el
arrastava Risoleta, tombando sobre as cadeiras.
Nacib resolveu ir embora. Tónico Bastos, os olhos em
Anabela, mudara-se para a mesa de Mundinho. Nhô-Galo desapareceu. A dançarina sorria,
levantava a taça de champanhe:
- À saúde de
todos! Ao progresso de Ilhéus!
Batiam palmas, aplaudindo. Nas mesas vizinhas olhavam
com inveja. Muitos iam para a outra sala jogar. Nacib desceu as escadas.
Atravessou as ruas silenciosas. Na casa do Dr.
Maurício Caíres filtrava-se a luz pela janela. Devia estar começando a estudar
o caso de Jesuíno, a preparar dados para a defesa, pensou Nacib, recordando os
indignados propósitos do advogado no bar. Mas um riso de mulher saíu pelas
frinchas da janela, morreu na rua.
Diziam que o viúvo levava, à noite, negrinhas do morro
para sua casa. Ainda assim não podia Nacib adivinhar que àquela hora, talvez
por interesse puramente profissional, exigia de uma cabrocha do Unhão,
mulatinha banguela e espantada, deitar-se com umas meias pretas de algodão,
vestida apenas com elas.
- Se vê cada
coisa nesse mundo… - A cabrocha ria por entre os dentes falhos e podres.
Nacib sentia o cansaço do dia trabalhoso. Tinha
conseguido saber, finalmente, o motivo daquelas idas e vindas de Mundinho, dos
segredos do Capitão com o Doutor, da entrevista secreta com Clóvis.
Relacionavam-se com o caso da barra.
Surpreendera pedaços de conversas. Pelo que diziam,
iriam chegar engenheiros, dragas, rebocadores. Doesse a quem doesse, grandes
navios estrangeiros entrariam no porto, viriam buscar cacau, começaria a
exportação directa. A quem podia doer? Não era, por acaso, a luta aberta com os
Bastos, com o coronel Ramiro?
O Capitão sempre desejara mandar na política local.
Mas não era fazendeiro, não tinha dinheiro para gastar. Estava explicada sua
amizade com Mundinho Falcão, acontecimentos sérios se anunciavam.
O coronel Ramiro não era homem, apesar da idade, para
cruzar os braços, entregar-se sem luta. Nacib não queria meter-se nessa história.
Era amigo de uns e de outros, de Mundinho e do coronel, do Capitão e do Tonico
Bastos. Dono de bar não pode envolver-se em política. Só traz
prejuízo. Mais perigoso ainda que meter-se com mulher casada.
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