terça-feira, maio 15, 2012


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 98


Finalmente o enterro saíu, maior do que o de Osmundo mas também lastimável, o padre Basílio engrolando as rezas, em prantos a família vinda de Olivença, suspirando aliviado o dono da casa. Nacib voltou ao bar.

Porque não enterrar os dois juntos, saindo os caixões na mesma hora, da mesma casa, para a mesma cova? Assim deviam ter feito. Vida salafrária, cheia de hipocrisia, cidade sem coração onde só o dinheiro contava.

 - Seu Nacib, a empregada é um pirão. Que beleza! – a voz mole de Chico.

 - Vá pró inferno! – Nacib estava triste.

Soube depois que o caixão de Sinhàzinha transpusera o portão do cemitério no mesmo momento em que se retiravam os raros acompanhantes de Osmundo. Quase na mesma hora em que o coronel Jesuíno Mendonça, assistido pelo Dr. Maurício Caíres, batia palmas na porta do Juiz de Direito para se apresentar. Depois o advogado aparecera no bar, recusando qualquer bebida além de água mineral:

 - Ontem saí do sério em casa de Amâncio. Tinha um vinho português de primeira…

Nacib afastou-se, não queria ouvir o comentário do regabofe da véspera. Foi à casa das Irmãs dos Reis saber como marchavam os preparativos do jantar e as encontrou ainda excitadas com o crime.

 - Ontem de manhã, ela estava na igreja, a infeliz – disse Quinquina a benzer-se.

 - Quando o senhor veio aqui, a gente tinha acabado de estar com ela, na missa – arrepiou-se Florzinha.

 - Uma coisa dessas… Por isso não me caso.

Levaram-no à cozinha, onde Jucundina e as filhas se desdobravam. “Não se afligisse com o jantar, tudo ia bem”.

Por falar nisso, arranjei cozinheira.

 - Óptimo. É boa?

 - Cuscuz sabe fazer. Comida vou saber daqui a pouco, na hora do almoço.

Não quer mais os tabuleiros?

 - Ainda uns dias…

 - É por causa do presépio… Muito trabalho.

Quando o movimento no bar se acalmou, mandou Chico Moleza almoçar:

 - Na volta traga minha marmita.

Na hora do almoço o bar ficava vazio. Nacib fazia a caixa, calculava os lucros, media as despesas. Invariavelmente, o primeiro a aparecer após o almoço era Tonico Bastos, tomava um digestivo, cachaça com bitter. 
Naquele dia falaram dos enterros, depois Tonico contara os sucessos do cabaré, na véspera, após a partida do árabe. O coronel Ribeirinho bebera tanto que tivera de ser levado para casa quase carregado. Na escada vomitara três vezes, sujando a roupa toda.

 - Tá de beiço caído pela dançarina…

 - E Mundinho Falcão?

 - Foi embora cedo. Me garantiu que não tem nada com ela que a estrada estava livre. E aí, é claro…

 - Você se atirou…

 - Entrei com o meu jogo.

 - E ela?

- Bem. Interessada ela está. Mas enquanto não agarrar Ribeirinho vai bancar a santa. Percebi  tudo.


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