CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 118
- Eu é que fui
inoportuno… - ouvia passos de mulher andando no quarto.
- E pergunte a
Tonico se ele prefere loira ou morena…
Dias depois chegava o telegrama do Ministro anunciando
o nome do engenheiro e a data do seu embarque para a Baía. Mundinho mandou
chamar o Capitão, o coronel Ribeirinho, o Doutor. «Designado engenheiro Rómulo
Vieira». O Capitão tomava do despacho, punha-se de pé:
- Vou
esfregá-lo nas ventas de Tonico e de Amâncio…
- Vinte
pacotes, ganhos sem esforço… - Ribeirinho erguia as mãos. Vamos fazer uma farra
monumental no Bataclan.
Mundinho recolheu o telegrama, não deixou o Capitão
levá-lo. Pediu-lhes mesmo para guardarem segredo ainda uns dias, era de muito
mais efeito anunciar no jornal, quando o engenheiro já estivesse na Baía. No
fundo temia nova ofensiva do Governador, novo recuo do Ministro. E só uma
semana depois, quando o engenheiro, já na Baía, avisava sua chegada no próximo
baiano.
Mundinho os convocara novamente, mostrou-lhes as
cartas e telegramas trocados, aquela fora uma dura e difícil batalha contra o
Governo do Estado. Ele não qui sera
alarmar os amigos, por isso não os pusera antes a par dos detalhes. Mas agora,
quando haviam vencido, valia a pena conhecer toda a extensão e valor dessa
vitória.
No bar Vesúvio, Ribeirinho mandou servir bebida a todo
o mundo e o Capitão cujo bom humor reaparecera, elevou o seu cálice à saúde do
«Dr. Rómulo Vieira, libertador da barra de Ilhéus». A notícia circulou, saíu depois no jornal,
vários fazendeiros voltavam a entusiasmar-se. Ribeirinho, o Capitão, o Doutor,
citavam trechos de cartas. O Governo do Estado fizera tudo para impedir a vinda
do engenheiro.
Jogara todo o seu prestígio, toda a sua força. O
Governador, por causa do genro, se empenhara pessoalmente. E quem vencera? Ele,
com o Estado na mão, chefe de governo, ou Mundinho Falcão, sem sair do seu
escritório em Ilhéus?
Seu prestígio pessoal derrotara o Governo do Estado.
Essa a verdade indiscutível. Os fazendeiros abanavam a cabeça, impressionados.
A recepção no porto foi festiva. Nacib, tendo acordado
tarde, o que lhe sucedia agora frequentemente, não pôde comparecer. Mas soubera
de tudo mal chegara ao bar da boca do Nhô-Galo.
Lá estiveram, na ponte, Mundinho Falcão e seus amigos,
vários fazendeiros também e grande número de curiosos. Tanto se falara desse
engenheiro que desejavam ver como ele era, havia-se tornado quase um ser
sobrenatural. Até um fotógrafo aparecera, contratado por Clóvis Costa.
Juntou todo o mundo num grupo, com o engenheiro no
centro, meteu a cabeça sob o pano preto, levou meia hora para bater o retrato.
Infelizmente perdeu-se esse documento histórico: a chapa queira-se, o homem só
sabia fotografar no seu atelier.
Quando vai começar? – qui s
saber Nacib.
- Logo. Os
estudos preliminares. Devo esperar meus ajudantes e os instrumentos necessários
estão vindo num navio do Lloyd, directo.
- E vai durar
muito?
- É difícil de
prever. Mês e meio, dois meses, ainda não sei.
<< Home