GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 130
João Fulgêncio cortava a conversa:
- Não diga besteira, Maneca, você não
entende disso. O livro é muito bom não tem nada de imoral. Essa moça é
inteligente.
-
Quem é inteligente – qui s saber o
Juiz de Direito, abancando-se na cadeira deixada por Clóvis.
Falávamos de Eça de Queiroz,
Ilustríssimo – respondeu João Fulgêncio apertando a mão do magistrado.
-
Um autor muito instrutivo… - Para o Juiz todos os autores eram «muito
instrutivos». Comprava livros às bateladas, misturando jurisprudência e
literatura, ciência e espiritismo. Segundo diziam comprava para enfeitar a
estante, impor-se na cidade, não lia nenhum deles. João Fulgêncio costumava
perguntar-lhe:
-
Então, digníssimo gostou de Anatole France?
-
Um autor muito instrutivo… - respondia imperturbável o Juiz.
-
Não o achou um tanto ou quanto irreverente?
-
Irreverente? Sim, um tanto ou quanto. Porém muito instrutivo…
Com a presença do Juiz retornaram as
penas de Nacib. Velho debochado… Que fizera da rosa de Gabriela, onde a deixara
abandonada? Era hora de crescer o movimento do bar, bastava de conversas.
-
Já vai, meu caro amigo? – interessou-se o Juiz – Boa empregada você arranjou…
Eu lhe dou os meus parabéns. Como é mesmo o nome dela?
Saiu. Velho debochado… E ainda por cima
a perguntar-lhe o nome de Gabriela, velho cínico, sem respeito ao cargo que
ocupava. E ainda falavam dele para desembargador…
Ao despontar na praça, divisou Malvina a
conversar com o engenheiro na avenida da praia. A moça sentada num banco,
Rómulo de pé a seu lado. Ela ria numa gargalhada solta, Nacib nunca a escutara
a rir assim.
O engenheiro era casado, a mulher estava
louca num hospício. Malvina não tardaria a saber. Do bar, Josué também
observava a cena, acabrunhado, ouvia a cristalina gargalhada a ressoar na
doçura da tarde. Nacib sentou-se a seu lado, simpatizante de sua tristeza,
solidário.
O jovem professor nem buscava esconder a
dor de cotovelo a alma. O árabe pensou em Gabriela: O Juiz, o coronel Manuel
das Onças, Plínio Araça, muitos outros a rondá-la. O próprio Josué não fazia
por menos, a escrever-lhe rimas.
Uma calma infinita cobria a praça,
tépida tarde de Ilhéus. Glória debruçava-se na janela. Josué, enfurecido de
ciúmes, levantava-se, voltado para a janela proibida de rendas e seios. Tirava
o chapéu para cumprimentar Glória, num gesto irreflectido e escandaloso.
Malvina ria na praia, doce tarde de
sossego.
Correndo pela rua, arauto de boas e más
novas, o negrinho Tuísca, arquejante, parava junto à mesa:
-
Seu Nacib, seu Nacib!
-
O que é, Tuísca?
-
Tocaram fogo no Diário de Ihéus.
-
O quê?
- No prédio? Nas máqui nas?
(Click na imagem. Está encontrada a rosa que o juiz tirou do cabelo da Gabriela...)
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