sábado, junho 23, 2012


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 132


Curiosos aglomeravam-se nas portas das lojas, dos armazéns, andavam para o jornal. Amâncio e Jesuíno não se haviam levantado sequer, a mesa em posição estratégica. A um tipo que se colocou na porta, impedindo-lhe a visão, Amâncio solicitou, sua voz macia.

 - Saia de frente faz, favor…

Como o homem não ouviu, apertou-lhe o braço:

 - Saia, já disse…

Depois do caminhão ter passado, Amâncio suspendeu o copo de cerveja, sorriu para Jesuíno.

 - Operação limpeza…

 - Bem sucedida…

Continuaram no bar, sem dar importância à curiosidade a cercá-los, gente parando no outro lado da rua para vê-los. Diversas pessoas haviam reconhecido jagunços de Amâncio, de Jesuíno, de Melk Tavares. E quem dirigira tudo, mandando os homens, fora um certo Loirinho, afilhado de Amâncio, desordeiro profissional que vivia a fazer baderna em casa de mulheres.

Clóvis Costa chegara quando as chamas começavam a ser contidas. Sacou do revólver, postou-se heróico na porta da redacção. Da mesa do bar, Amâncio comentou com desprezo:

 - Nem sabe segurar o revólver…

Começaram a acorrer os amigos, improvisaram aquele comício. Durante o resto da tarde vieram personalidades emprestar o seu apoio.

Mundinho apareceu com o capitão, abraçava Clóvis Costa. O jornalista repetia:

 - São os ossos do ofício…

Naquela tarde quem parou sob a janela de Glória, a satisfazer-lhe a fome de notícias, não foi o negrinho Tuísca, extremamente ocupado a comandar o bando de moleques em frente à redacção. Foi o professor Josué, perdida toda a prudência e respeitabilidade, a face mais pálida que nunca, cobertos de crepe os olhos românticos, de luto o coração. Malvina passeava com o engenheiro pela avenida, Rómulo apontava o mar, talvez a informasse sobre a sua profissão. A moça ouvindo interessada, de quando em vez a rir.

Nacib arrastara Josué até ao jornal, o professor demorara apenas uns minutos, o que realmente lhe interessava eram os acontecimentos da praia, a conversa de Malvina e do engenheiro.

Já as solteironas conversavam na porta da igreja, em torno do padre Cecílio, comentando o incêndio. A risada de Malvina ante o mar desinteressada de jornais queimados, acabou de enfurecer Josué.

Afinal não era o engenheiro o responsável? O recém-chegado nem se dignava interessar-se pela brusca agitação da cidade, indiferente, a conversar com Malvina.

Josué atravessou a praça, passou entre as solteironas, aproximou-se da janela de Glória, os lábios carnudos da mulata abriram-se num sorriso.

Boa tarde.

Boa tarde, professor. Que foi que houve?
(Clik na imagem. Em portugal estamos no Verão e a beira-mar é sempre um local agradável mas...cuidado com os escaldões na pele)

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