sábado, julho 07, 2012


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 143



É a rainha da festa… - disse-lhe.

Mais se encostou Iracema, respondendo.

 - Pobre de mim… ninguém me olha.

Dª Felícia sorria na cadeira. Iracema concluiria o curso no Colégio das Freiras no fim do ano, chegava o tempo de casar.

O coronel Ramiro Bastos fizera-se representar no acto da tarde por Tonico. O outro filho, Alfredo estava na Baía, ocupado na Câmara. À noite, no baile, Tonico, acompanhava Dª Olga, de banhas esmagadas num vestido rosa e juvenil, ridículo!

Com eles viera a sobrinha mais velha de desmaiados olhos azuis e pele fina de madrepérola. Muito compenetrado e respeitável, Tonico nem olhava as mulheres, ocupado em fazer rodopiar aquela montanha de carnes que Deus e o coronel Ramiro lhe haviam dado por esposa.

Nacib bebia champanhe. Não para aumentar o consumo da bebida cara e ganhar mais dinheiro como rosnara o despeitado Plínio Araçá. Para esquecer padecimentos, afugentar o medo que não o largava mais, temores a persegui-lo dia e noite.

O cerco em derredor de Gabriela crescia e se apertava. Mandavam-lhe recados, propostas, bilhetinhos de amor. Ofereciam mirabolantes salários à incomparável cozinheira: casa posta, luxo nas lojas, à rapariga incomparável.

Ainda há poucos dias, quando Nacib se sentia menos triste devido àquela eleição de quarto-secretário, sucedera um caso a lhe mostrar até onde ia a audácia dessa gente.

A esposa de mister Grant, director da Estrada de Ferro não se pejara de ir a casa de Nacib fazer propostas a Gabriela. Era esse Grant um inglês idoso, magro e calado, habitando Ilhéus desde 1910. Conheciam-no e tratavam-no simplesmente por Mister. A esposa, uma gringa alta e loiríssima de modos livres e um tanto masculinos não suportava Ilhéus, vivia na Baía há vários anos.

Dos seus tempos na cidade ficara a lembrança da sua figura então extremamente jovem e uma quadra de ténis que fizera construir nuns terrenos da Estrada invadida pelo capim após a sua partida. Na Baía dava grandes jantares na sua casa na Barra Avenida, corria de automóvel, fumava cigarros, constava que recebia os amantes em plena luz do dia.

O Mister não saía de Ihéus adorando a boa cachaça ali fabricada, jogando pocker de dados, embriagando-se indefectivelmente todos os sábados no Pinga de Ouro, indo todos os Domingos caçar nas redondezas. Vivia numa bela casa cercada de jardins, sozinho com uma índia que dele tivera um filho.

Quando a esposa aparecia em Ilhéus, duas, três vezes por ano trazia presentes para a índia grave e silenciosa como um ídolo. E apenas o menino completara seis anos, a inglesa o levara consigo para a Baía onde o educava como se fosse seu filho.

Nos dias feriados, num mastro plantado no jardim do Mister tremulava a bandeira de Inglaterra, pois Grant era, em Ilhéus Vice – Cônsul de Sua Graciosa Magestade Britânica.
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