CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 146
E ainda assim não era fácil obter o
reconhecimento. Para isso ele contava com as amizades do exportador no cenário
federal, o prestígio da família Mendes Falcão. Mas era preciso vencer por larga
margem, sem o que nada feito.
Voltara a calma, pelo menos aparente,
após os últimos acontecimentos. Em certos círculos em Ilhéus, crescia a
simpatia em torno de Mundinho. Gente assustada com o retorno dos métodos
violentos, com a fogueira dos jornais.
Enquanto os Bastos mandassem, diziam,
não se veria o fim do reino dos jagunços. Mas o Capitão sabia que esses
comerciantes, esses moços das lojas e dos armazéns, esses trabalhadores do
porto, significavam poucos votos.
Os votos pertenciam aos coronéis,
sobretudo aos grandes fazendeiros, donos de distritos, compadres de meio mundo,
donos também da máqui na eleitoral.
Esses, sim, decidiam.
A casa do coronel Altino Brandão, em Rio
do Braço, ficava ao lado da estação, rodeada de varandas, trepadeiras a subir
pelas paredes, flores variadas no jardim, qui ntal
de árvores frutíferas. Admirara-se Mundinho a pensar se não tinha razão o
colector quando dizia ser o fazendeiro um tipo raro em Ilhéus, de mentalidade
aberta.
Não se conservara naquela zona a
tradição das confortáveis casas-grandes da lavoura de açúcar, seus requi ntes, seus luxos. Nas roças e povoados, as casa
dos coronéis careciam por vezes do mais rudimentar conforto. Nas fazendas
erguiam-se sobre estacas, por baixo das quais dormiam os porcos. Quando não,
próximo ficava sempre o chiqueiro, numa defesa contra as cobras inúmeras, de
veneno mortal.
Os porcos as matavam, protegidos contra
o veneno pela grossa camada de gordura a envolvê-los. Ficara da época dos
barulhos uma certa sobriedade no viver, que só de algum tempo para cá ia-se
perdendo em Ilhéus e Itabuna, onde começavam os coronéis a comprar e a
construir boas moradias, bangalós e mesmo palacetes. Eram os filhos,
estudantes, estudantes nas faculdades na Baía, quem os obrigava a abandonar os
hábitos frugais.
É uma honra que nos faz… - dissera o
coronel ao apresentá-lo à esposa na sala de visitas bem mobilada em cuja parede
viam-se retratos coloridos de Altino e da mulher quando jovens.
Levou-o depois ao quarto de hóspedes,
régio, colchão de lã de barriguda, lençóis de linho, colcha bordada, um cheiro
de alfazema queimada perfumando o ar.
-
Se vosmicê estiver de acordo, proponho a gente montar logo depois do almoço.
Pra ter tempo de ver o trabalho nas roças. Dormir nas Águas Claras, de manhã
tomar banho no rio, dar uma volta a cavalo pra ver a fazenda. Almoçar umas
caças por lá, voltar pra jantar aqui .
-
Óptimo. Completamente de acordo.
A fazenda Águas Claras, do coronel
Altino, imensa extensão de terras, ficava perto do povoado, a menos de uma
légua. Possuía ele outra fazenda mais distante, onde havia mata por derrubar.
Os pratos sucederam-se na mesa, peixes
do rio, aves diversas, carnes de boi, de carneiro, de porco. E isso que
almoçavam em família era no domingo o jantar com convidados.
(Click na imagem que me sugere o seguinte comentário: "importante não é o que se mostra mas aquilo que se esconde")
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