quarta-feira, julho 11, 2012


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 146


E ainda assim não era fácil obter o reconhecimento. Para isso ele contava com as amizades do exportador no cenário federal, o prestígio da família Mendes Falcão. Mas era preciso vencer por larga margem, sem o que nada feito.

Voltara a calma, pelo menos aparente, após os últimos acontecimentos. Em certos círculos em Ilhéus, crescia a simpatia em torno de Mundinho. Gente assustada com o retorno dos métodos violentos, com a fogueira dos jornais.

Enquanto os Bastos mandassem, diziam, não se veria o fim do reino dos jagunços. Mas o Capitão sabia que esses comerciantes, esses moços das lojas e dos armazéns, esses trabalhadores do porto, significavam poucos votos.

Os votos pertenciam aos coronéis, sobretudo aos grandes fazendeiros, donos de distritos, compadres de meio mundo, donos também da máquina eleitoral. Esses, sim, decidiam.

A casa do coronel Altino Brandão, em Rio do Braço, ficava ao lado da estação, rodeada de varandas, trepadeiras a subir pelas paredes, flores variadas no jardim, quintal de árvores frutíferas. Admirara-se Mundinho a pensar se não tinha razão o colector quando dizia ser o fazendeiro um tipo raro em Ilhéus, de mentalidade aberta.

Não se conservara naquela zona a tradição das confortáveis casas-grandes da lavoura de açúcar, seus requintes, seus luxos. Nas roças e povoados, as casa dos coronéis careciam por vezes do mais rudimentar conforto. Nas fazendas erguiam-se sobre estacas, por baixo das quais dormiam os porcos. Quando não, próximo ficava sempre o chiqueiro, numa defesa contra as cobras inúmeras, de veneno mortal.

Os porcos as matavam, protegidos contra o veneno pela grossa camada de gordura a envolvê-los. Ficara da época dos barulhos uma certa sobriedade no viver, que só de algum tempo para cá ia-se perdendo em Ilhéus e Itabuna, onde começavam os coronéis a comprar e a construir boas moradias, bangalós e mesmo palacetes. Eram os filhos, estudantes, estudantes nas faculdades na Baía, quem os obrigava a abandonar os hábitos frugais.

É uma honra que nos faz… - dissera o coronel ao apresentá-lo à esposa na sala de visitas bem mobilada em cuja parede viam-se retratos coloridos de Altino e da mulher quando jovens.

Levou-o depois ao quarto de hóspedes, régio, colchão de lã de barriguda, lençóis de linho, colcha bordada, um cheiro de alfazema queimada perfumando o ar.

 - Se vosmicê estiver de acordo, proponho a gente montar logo depois do almoço. Pra ter tempo de ver o trabalho nas roças. Dormir nas Águas Claras, de manhã tomar banho no rio, dar uma volta a cavalo pra ver a fazenda. Almoçar umas caças por lá, voltar pra jantar aqui.

 - Óptimo. Completamente de acordo.

A fazenda Águas Claras, do coronel Altino, imensa extensão de terras, ficava perto do povoado, a menos de uma légua. Possuía ele outra fazenda mais distante, onde havia mata por derrubar.

Os pratos sucederam-se na mesa, peixes do rio, aves diversas, carnes de boi, de carneiro, de porco. E isso que almoçavam em família era no domingo o jantar com convidados.
(Click na imagem que me sugere o seguinte comentário: "importante não é o que se mostra mas aquilo que se esconde")

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