sábado, julho 14, 2012


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 149




Enxergou também, na janela, a loira Jerusa, tirou-lhe o chapéu, ela acenou adeus com a mão O que revelava pelo menos senso de humor, já que nas vésperas Ribeirinho expulsara de Guaraci, um povoado próximo da sua fazenda a um preposto dos Bastos, funcionário da Intendência.

O homem chegara a Ilhéus em petição de miséria, quebrado de pau, vestido com umas roupas emprestadas, enormes para o seu corpo, pois fora nu em pêlo que tivera de ganhar a estrada, a pé na noite da surra…


Do Pássaro Sofrê


Já não podia mais Nacib, perdidos o sossego a alegria, o gosto de viver. Deixara até de enrolar a ponta dos bigodes, murchos agora sobre a boca de riso perdido. Era um pensar sem fim, nada igual para consumir um homem, tirar-lhe o sono e o apetite, emagrecê-lo, deixá-lo sem graça, melancólico.

Tonico Bastos debruçava-se no balcão, servia-se do amargo, olhava irónico a figura abatida do dono do bar:

 - Você está decaindo, árabe. Nem parece o mesmo, grandes olhos arregalados, pousavam-se no elegante tabelião. Tonico crescera em sua estima nesses tempos.

 - Sempre tinham sido amigos, porém de relações superficiais, conversas sobre mulheres da vida, idas ao cabaré, tragos tomados juntos. Ultimamente, no entanto, desde a aparição de Gabriela, estabelecera-se entre eles uma intimidade mais profunda. De todos os frequentadores diários do aperitivo, era Tonico o único a manter-se discreto na hora do meio-dia, quando ela chegava de flor atrás da orelha.

Apenas a cumprimentava delicadamente, perguntava-lhe pela saúde, elogiava-lhe o tempero sem igual. Nem requebro de olhos, nem palavrinhas sussurradas, nem tentava tomar-lhe da mão.

Tratava-a como se ela fosse respeitável senhora, bela e desejável, porém inacessível. De nenhum outro temera tanto Nacib a concorrência, ao contratar Gabriela, quanto de Tonico. Não era ele o conquistador sem rival, o tombador de corações?

O mundo é assim, surpreendente e difícil: mantinha Tonico a máxima descrição e respeito na presença da excitante Gabriela. Todos sabiam das relações do árabe com a formosa empregada. É verdade que, oficialmente, ela não passava de sua cozinheira, nenhum outro compromisso entre eles.

Pretexto para cobrirem-na, mesmo na sua vista, de palavras doces, envolverem-na em frases melosas, meter-lhe bilhetinhos na mão. Os primeiros ele os lera displicente, fizera bolinhas de papel e os atirara ao lixo. Agora despedaçava-os, raivoso; eram tantos, alguns até indecentes. Tonico, não. Dava-lhe prova de verdadeira amizade, a respeitá-la como se ela fosse senhora casada, esposa de coronel.

Era ou não era amizade, sinal de consideração? Nacib não o ameaçava, como fizera Coriolano a propósito de Glória. No entanto, só de Tonico, não tinha queixas e somente para ele abria seu coração doloroso como túmida espinha.
(Click na imagem da Gabriela completamente alheia ao terrível drama que Nacib está vivendo por sua causa...)

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