quinta-feira, julho 19, 2012


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio nº 153


Oportunista respondeu:

 - É isso mesmo. Alguns não se importam, mas outros reclamam.

Tristes os olhos de Gabriela. O sofrê rompia o peito, canto de rasgar o coração. Tão tristes os olhos de Gabriela:

 - Que mal eu fazia?

Porque fazê-la sofrer, porque não dizer a verdade, contar-lhe de seus ciúmes, gritar-lhe seu amor, chamá-la Bié como tinha vontade, como a chamava em seu pensamento?

 - Faço assim a partir de amanhã: entro pelos fundos só para servir a comida. Não ando na sala nem do lado de fora.

E porque não? Assim não a deixava de ver ao meio dia, de tê-la junto de si, de tocar-lhe a mão, a perna, o seio. E sua presença semiescondida não valeria como resposta negativa às ofertas tentadoras, às palavras melosas?

 - Você gosta de ir?

Fez que sim com a cabeça. Era sua hora livre de passeio, como gostava! De atravessar sob o sol, a marmita na mão. De andar entre as mesas, de ouvir as palavras, de sentir os olhos carregados de intenções. Dos velhos, não.

Das propostas de casa montada feita pelos coronéis, disso não. De sentir-se mirada, festejada, desejada. Era como uma preparação para a noite, deixava-a como envolta numa áurea de desejo e nos braços de Nacib ela revia os moços bonitos: seu Tonico, seu Josué, seu Ary, seu Epaminondas, caixeiro de loja.

Teria sido algum deles o autor do fuxico? Pensava que não. Um daqueles velhos feios, danado, por ela não lhe dar atenção, com certeza danado por ela não dar atenção.

 - Está bem, então pode ir. Mas não vai mais servir, fica sentada atrás do balcão.

Teria os olhares pelo menos, os sorrisos, algum haveria de vir ao balcão lhe falar.

 - Vou voltar… –  anunciou Nacib.

 - Tão cedo…

 - Nem podia ter vindo…

Os braços da Gabriela cingiram-lhe as pernas, prendendo-o. Nunca a tivera de dia, sempre fora de noite. Queria levantar-se, ela o retinha, calada e agradecida.

 - Vem cá… Aqui mesmo…

Arrastou-a consigo. Era a primeira vez que ia possuí-la em seu quarto de dormir, em seu leito, como se ela fosse sua mulher e não sua cozinheira. Quando lhe arrancou o vestido de chita e o corpo nu rolou convidativo na cama, enxutas nádegas, duros seios, quando ela tomou sua cabeça e beijou-lhe os olhos, ele lhe perguntou, e era a primeira vez que o fazia:

 - Me diga uma coisa: tu me quer bem?

Ela riu no canto do pássaro, era um trinado só:

 - Moço bonito… Gosto é de mais…
(Click na imagem de Gabriela, Bié, para Nacib: "moço bonito... gosto é de mais...)

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