CRAVO
E
CANELA
Episódio nº 153
Oportunista respondeu:
-
É isso mesmo. Alguns não se importam, mas outros reclamam.
Tristes os olhos de Gabriela. O sofrê
rompia o peito, canto de rasgar o coração. Tão tristes os olhos de Gabriela:
-
Que mal eu fazia?
Porque fazê-la sofrer, porque não dizer
a verdade, contar-lhe de seus ciúmes, gritar-lhe seu amor, chamá-la Bié como
tinha vontade, como a chamava em seu pensamento?
-
Faço assim a partir de amanhã: entro pelos fundos só para servir a comida. Não ando
na sala nem do lado de fora.
E porque não? Assim não a deixava de ver
ao meio dia, de tê-la junto de si, de tocar-lhe a mão, a perna, o seio. E sua
presença semiescondida não valeria como resposta negativa às ofertas
tentadoras, às palavras melosas?
-
Você gosta de ir?
Fez que sim com a cabeça. Era sua hora
livre de passeio, como gostava! De atravessar sob o sol, a marmita na mão. De
andar entre as mesas, de ouvir as palavras, de sentir os olhos carregados de
intenções. Dos velhos, não.
Das propostas de casa montada feita
pelos coronéis, disso não. De sentir-se mirada, festejada, desejada. Era como
uma preparação para a noite, deixava-a como envolta numa áurea de desejo e nos
braços de Nacib ela revia os moços bonitos: seu Tonico, seu Josué, seu Ary, seu
Epaminondas, caixeiro de loja.
Teria sido algum deles o autor do
fuxico? Pensava que não. Um daqueles velhos feios, danado, por ela não lhe dar
atenção, com certeza danado por ela não dar atenção.
-
Está bem, então pode ir. Mas não vai mais servir, fica sentada atrás do balcão.
Teria os olhares pelo menos, os
sorrisos, algum haveria de vir ao balcão lhe falar.
-
Vou voltar… – anunciou Nacib.
-
Tão cedo…
-
Nem podia ter vindo…
Os braços da Gabriela cingiram-lhe as
pernas, prendendo-o. Nunca a tivera de dia, sempre fora de noite. Queria
levantar-se, ela o retinha, calada e agradecida.
-
Vem cá… Aqui mesmo…
Arrastou-a consigo. Era a primeira vez
que ia possuí-la em seu quarto de dormir, em seu leito, como se ela fosse sua
mulher e não sua cozinheira. Quando lhe arrancou o vestido de chita e o corpo
nu rolou convidativo na cama, enxutas nádegas, duros seios, quando ela tomou
sua cabeça e beijou-lhe os olhos, ele lhe perguntou, e era a primeira vez que o
fazia:
-
Me diga uma coisa: tu me quer bem?
Ela riu no canto do pássaro, era um
trinado só:
-
Moço bonito… Gosto é de mais…
(Click na imagem de Gabriela, Bié, para Nacib: "moço bonito... gosto é de mais...)
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