quarta-feira, julho 18, 2012


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 152


Prejuízo pró bar? Paciência…

Perdia dinheiro, pior seria perdê-la. Era uma tentação diária para os homens, presença embriagadora. Como não querê-la, não desejá-la, não suspirar por ela depois de vê-la?

Nacib a sentia na ponta dos dedos, nos bigodes caídos, na pele das coxas, na planta dos pés. O sofrê parecia cantar para ele, tão triste era o canto. Porque não o levaria para Gabriela? Agora proibida de vir ao bar, necessitava de distracções.

Comprou o sofrê. Já não podia de tanto pensar.


Gabriela em pássaro preso

 - Oh! Que beleza – musicou Gabriela vendo o sofrê. Nacib depositou a gaiola numa cadeira, o pássaro se debatia contra as grades.

 - Pra você… para lhe fazer companhia.

Ele se havia sentado. Gabriela acomodou-se no chão, a seus pés. Tomou-lhe da mão grande e peluda, beijou-lhe a palma naquele gesto que recordava a Nacib, nem mesmo sabia porquê, a terra de seus pais, as montanhas da Síria. Depois encostou a cabeça em seus joelhos, ele passou-lhe a mão nos cabelos. O pássaro sossegara, soltou seu trinado.

- Dois presentes de uma vez… Moço tão bom!

 - Dois?  

 - O passarinho e, mais bom ainda, ter vindo trazer, Todo o dia o moço só chega de noite…

E ia perdê-la… “Cada mulher, por mais fiel, tinha seu limite”. Nhô-Galo queria dizer seu preço.

Reflectiu-se-lhe a amargura no rosto e Gabriela levantou os olhos ao falar, constatou:

 - Seu Nacib anda triste… Era assim não… Era faceiro, risonho, agora anda triste. Porquê, seu Nacib?

Que lhe podia dizer? Que não sabia como guardá-la, como prendê-la a si para sempre? Aproveitou para falar nas idas diárias ao bar.

 - Tenho uma coisa para lhe falar.

 - Pois fale, meu dono…

- Não estou gostando de uma coisa, está me preocupando.

Ela assustou-se:

 - A comida tá ruim? A roupa mal lavada?

 - Não é nada disso. É outra coisa.

 - E o que é?

 - Tuas idas ao bar. Não gosto, não me agradam…

Arregalaram-se os olhos e Gabriela:

 - Vou pra ajudar, pra comida não esfriar. Por isso que vou.

 - Eu sei. Mas os outros não sabem…


 - Já sei. Não pensei não… Fica feio eu no bar, não é? Os outros não gostam, uma cozinheira no bar… Não pensei não.

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