terça-feira, julho 17, 2012


INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES À ENTREVISTA Nº 56 SOBRE O TEMA: "HOMOSEXUALIDADE" (5)


A homofobia na América Latina


Antropólogo Dr. Luiz Mott, professor da Universidade Federal da Bahia, Brasil, fundador e presidente do Grupo Gay da Bahia, autor de 15 livros e mais de 200 artigos sobre a história da homossexualidade, tem esta visão histórica:
Quando a América foi descoberta, Espanha e Portugal viviam o seu período de maior intolerância contra aqueles que praticavam o "pecado abominável e pernicioso de sodomia". 


Naquela época instalaram-se na Península Ibérica os Tribunais da Inquisição, que tornaram a sodomia um crime tão grave como o regicídio e a traição. Na América, os tribunais da Inquisição também perseguiam "sodomitas". Este crime foi um dos poucos em que as primeiras autoridades brasileiros tinham autoridade para punir com pena de morte sem consultar o rei de Portugal.


Nos tratados de teologia moral na época da Conquista podia ler-se: De todos os pecados, a sodomia é o mais torpe, sujo e desonesto, e não se encontra outro mais odiado por Deus e o mundo.Por este pecado, Deus lançou o dilúvio sobre a terra e por causa dele destruiu as cidades de Sodoma e Gomorra. Portanto, para nós, todo o homem que comete este pecado, é queimado e transformado em pó pelo fogo,  para que de seu corpo e sepultura jamais se tenha memória.
Ao desembarcarem no Novo Mundo, os europeus encontraram uma grande diversidade de povos e civilizações, cujas práticas sexuais diferiam em muito da matriz cultural judaico-cristã, com algumas sendo mesmo diametralmente opostas tais como  a virgindade, nudez, a poligamia, divórcio e, especialmente, a homossexualidade, travestismo e transexualidade.


Já em 1514, é relatado na "História Geral e Natural das Índias" que o gosto pela vício nefasto estava presente em todo o Caribe e em algumas áreas do continente. Há evidências de que os conquistadores profundamente chocados com isso atribuíam à falta de conhecimento do "verdadeiro Deus".


O ano de 1513 pode ser considerada a data de abertura da intolerância homofóbica no Novo Mundo: o conquistador Vasco de Balboa, ao encontrar um grupo gay de índios no istmo do Panamá apreendeu 40 deles e os entregou  a cães ferozes para serem devorados, como Pietro Martire nos relata num retrato dramático gravado da época. Em 1548, regista-se a primeira perseguição institucional contra homossexuais europeus na Guatemala: capturaram sete, quatro deles clérigos. Salvaram-se de morrer na fogueira por causa de um motim que, por coincidência, ocorreu. No Brasil, entre 1591 e 1620, 44 homens e mulheres foram acusados ​​e julgados por sodomia.


No final do século XVIII haviam sido acusados 283 homens e mulheres por esse delito, 29 eram lésbicas. Destas, 5 sofreram penas pecuniárias e espirituais, 3 foram desterradas e 2 condenadas a chicotadas públicas.A mais famosa de todas, Felipa de Souza, deu o seu nome ao maior prémio internacional de direitos dos homossexuais, uma iniciativa da Comissão Internacional de Direitos Humanos para Gays e Lésbicas. O México liderou a perseguição aos homossexuais durante o período colonial: em 1658, 123 foram denunciados sodomitas na Cidade do México e cerca de 19 deles foram presos e 14 queimados na fogueira. (continua)
   
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