terça-feira, julho 17, 2012


GABRIELA
CRAVO 
E
CANELA

Episódio Nº 151


Era preciso oferecer-lhe algo superior, alguma coisa maior, capaz de tornar irrisórias as ofertas do Juiz, de Manuel das Onças, agora também de Ribeirinho, subitamente sem Anabela.

A dançarina fora embora, aquela terra lhe metia medo. O rumor levantado pela surra no empregado da Intendência, envolvendo Ribeirinho, anunciando factos ainda mais graves, a decidira.

Preparou sua bagagem em segredo, comprou às escondidas uma passagem num Baiano, só se despediu de Mundinho. Foi à sua casa na véspera, ele lhe deu ainda um conto de réis.

Ribeirinho estava na roça; quando chegou, encontrou a notícia. Ela levara anel de brilhante, pendentif de ouro, mais de vinte contos de jóias. Tonico comentara no bar:

 - Ficámos viúvos, eu e Ribeirinho. Afinal, está em tempo de Mundinho nos arranjar outra coisa…


Ribeirinho voltara-se para Gabriela, já tinha a casa pronta, era só ela decidir-se. Também a ela daria anel de brilhante, pendentif de ouro. De tudo isso Nacib sabia, Dª Arminda lhe contava, gabando a vizinha:

 - Nunca vi tão direita… olhe que é de deixara qualquer mulher virada. É preciso gostar mesmo de alguém, ter mais amor por um cujo que por si mesma. Outra qualquer já estava por aí, coberta de luxo que nem uma princesa…

Dos sentimentos de Gabriela, ele não duvidava. Não resistia ela, como se em nada lhe importassem, a todas as propostas, a todas as ofertas? Ria para eles, não se zangava quando um mais ousado lhe tocava a mão, pegava-lhe no queixo. Não devolvia os bilhetes, não era grosseira, agradecia as palavras de gabo.

Mas a ninguém dava trela, jamais se queixava, nunca lhe pedira nada, recebia os presentes batendo as mãos, numa alegria. E não morria ela cada noite em seus braços, ardente, insaciável, renovada, a chamá-lo seu moço bonito, minha perdição?»

« Se eu fosse você era o que eu faria…» Fácil de dizer quando se trata dos outros. Mas como casar com Gabriela, cozinheira, mulata, sem família, sem cabaço, encontrada no «mercado de escravos»? Casamento era com senhorita prendada, de família conhecida, de enxoval preparado, de boa educação, de recatada virgindade.

Que diria seu tio, sua tia tão metida a sebo, sua irmã, seu cunhado engenheiro agrónomo de boa família Que diriam os Ashar, seus parentes ricos, senhores de terra, mandando em Itabuna? Seus amigos do bar, Mundinho Falcão, Amâncio Leal, Melk Tavares, o Doutor, o Capitão, Dr. Maurício, Dr. Ezequiel? Que diria a cidade? Impossível sequer pensar nisso, um absurdo. N o entanto, pensava.

Apareceu no bar um roceiro vendendo pássaros. Numa gaiola, um sofrê partia num canto triste e mavioso. Belo e inquieto, em negro e amarelo, não parava um instante. Seu trinado crescia, era doce de ouvir. Chico Moleza e Bico Fino extasiavam-se.

Uma coisa era certa, ia fazer. Acabar com as vindas de Gabriela, ao meio dia.
 (Na imagem, Gabriela adormeceu esperando por seu Nacib, moço bonito...)

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