quarta-feira, agosto 08, 2012


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 162


Não só o Diabo, o Inferno inteiro ele o conduzia dentro de si. De nada adiantara o trato feito com Gabriela. Ela vinha e ficava por detrás da caixa registadora. Frágil trincheira, curta distância para o desejo dos homens.

Acotovelavam-se agora a beber de pé, junto ao balcão, quase um comício em torno dela, uma pouca vergonha. O juiz descarara tanto que a ele próprio, Nacib, já dissera:

 - Vá se preparando, meu caro, que vou lhe roubar Gabriela. Vá tratando de procurar outra cozinheira.

 - Ela deu esperanças, doutor?

 - Mas dará… É questão de tempo e jeito.

Manuel das Onças, que antes não saía das roças, parecia esquecido das suas fazendas em plena época de colheita. Até pedaço de terra mandara oferecer a Gabriela. Quem tinha razão era a solteirona. O Diabo se soltara em ilhéus, virava a cabeça dos homens. Terminaria virando a de Gabriela também. Ainda há dois dias, Dª. Arminda lhe dissera:

 - Uma coincidência: sonhei que Gabriela tinha ido embora e no mesmo dia o coronel Manuel mandou dizer que se ela quisesse botava no papel uma roça, em nome dela.

Cabeça de mulher é fraca, bastava olhar a praça: lá estava Malvina sentada num banco na Avenida, a conversar com o engenheiro. João Fulgêncio não dizia que era a mulher mais inteligente de Ilhéus, com carácter e tudo. E não perdia a cabeça a namorar na vista de todos um homem casado?

Nacib andara até à extremidade do largo passeio do bar. Perdido em seus pensamentos, assustou-se quando viu o coronel Melk Tavares sair de casa, marchar para a praia.

 - Espiem! - exclamou.

Alguns ouviram, voltaram-se para ver.

 - Vai andando para eles…

 - Vai haver alteração…

A moça também vira o pai a aproximar-se, pusera-se de pé. Devia ter chegado da roça naquela hora, nem descalçara as botas. No bar abandonavam as mesas de dentro para espiar.

O engenheiro empalidecera quando Malvina lhe avisara:

 - Meu pai está vindo para cá.

 - Que vamos fazer? – A voz o traía.

Melk Tavares, a cara fechada, o rebenque na mão, os olhos na filha, parou junto deles. Como se não visse o engenheiro, nem o olhou. Disse a Malvina, a voz como uma chibatada:

 - Já pra casa! O rebenque estalou seco contra a bota.

 Ficou parado olhando a filha andar num passo lento. O engenheiro não se movera, um peso nas pernas, o suor na testa e nas mãos. Quando Malvina entrou no portão e desapareceu, Melk levantou o rebenque, encostou a ponta de couro no peito de Rómulo:

 - Soube que o senhor terminou os seus estudos da barra. Que telegrafou pedindo para continuar, ficar dirigindo os trabalhos. Se eu fosse o senhor, não faria isso, não. Mandava um telegrama pedindo um substituto e não esperava que ele chegasse. Tem um navio depois de amanhã.
( Click na imagem do coronel Melk Tavares, pai de Malvina, que parece ter posto fim ao namoro da filha com o engenheiro com velada ameaça de morte)

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