(Richard Dawkins)
Acontece que nós não
reparamos nas centenas e milhares de traças que em silêncio e de forma eficaz
são guiadas pela lua ou por uma estrela brilhante. Só vemos traças a girar em
círculos até embaterem nas nossas velas, e daí, a pergunta errada:
- «Porque motivo estão todas estas traças a
cometerem suicídio?»
Em vez disso devíamos
perguntar:
- «Porque têm elas sistemas nervosos que se
guiam mantendo um ângulo fixo em relação aos raios da luz, táctica esta que só
reparamos quando corre mal?»
Reformulada a pergunta o
mistério desvanece-se. Nunca foi correcto chamar-lhe suicídio. É um subproduto
falhado de uma bússola normalmente útil.
Aplique-se, agora, ao
comportamento religioso dos humanos a lição acerca do subproduto.
Vemos numerosos grupos de
pessoas – que em muitas regiões chega aos 100% - a defenderem crenças, com uma
certeza veemente, que contradizem, rotundamente, factos cientificamente
demonstráveis, bem como religiões rivais seguidas por outros.
As pessoas, não só nutrem
estas crenças com uma certeza veemente, como também dedicam tempo e recursos a
actividades dispendiosas delas decorrentes. Morrem por elas, por elas matam.
Pasmamos com o facto, tal
como pasmamos com o «comportamento de auto-imolação» das traças. Perplexos,
perguntamos porquê e o que eu pretendo dizer é que estamos a fazer a pergunta
errada.
O comportamento religioso
pode ser um tiro falhado, um subproduto infeliz de uma propensão psicológica
subjacente que, noutras circunstâncias, será útil – ou o foi em tempos.
Por este prisma, a propensão
que acabou por ser naturalmente seleccionada nos nossos antepassados não era
religião “per se”, teria uma outra vantagem qualquer, e só circunstancialmente
se manifesta na forma de comportamento religioso.
Só iremos compreender o
comportamento religioso depois de lhe darmos um novo nome.
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