sábado, setembro 08, 2012


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 187


Após fazer sua safra de entradas, de empurrar um livro a Ari, com dedicatória, outro ao coronel Manuel das Onças, Argileu sentou-se numa das mesas, com o Doutor, João Fulgêncio, Ribeirinho e Ari, para provar a louvada «cana de Ilhéus».

E, chupitando sua cachacinha, entre os recentes amigos, já um pouco despido do ar de grande personalidade, o vate revelou-se excelente prosa, contando divertidas anedotas com sua voz de trovoada, rindo alto, a interessar-se pelos assuntos locais, como se ali vivesse há muito, não houvesse desembarcado naquela manhã.

Apenas a cada novo freguês fazia-se apresentar, retirava da pasta entradas e livros. Finalmente, por proposta de Nhô-Galo, inventaram uma espécie de código para facilitar-lhes o trabalho. Quando a vítima tivesse capacidade para entradas e livro, seria o Doutor quem faria as apresentações. Quando fosse para várias entradas mas sem livro, Ari apresentaria.

Homem solteiro ou apertado de dinheiro, uma entrada, só ele, Nhô-Galo, seria o introdutor. Ganhava-se tempo. O poeta relutou um pouco em aceitar:

 - Essas coisas enganam… Eu tenho experiência. “As vezes um tipo que a gente nem pensa, leva um livrinho… Afinal o preço varia…

Descarava por completo naquela roda alegre, à qual haviam-se juntado Josué, o Capitão e Tonico Bastos. Nhô-Galo garantia:

 - Aqui, meu caro, não pode haver engano. Nós conhecemos as possibilidades, os gostos, o analfabetismo de cada um…

Um moleque entrou pelo bar distribuindo prospectos de um circo cuja estreia se anunciava para o dia seguinte. O poeta tremeu:

 - Não, não posso admitir! Amanhã é dia da minha conferência. Escolhi de propósito porque nos dois cinemas dão filmes de mocinho,, gente grande pouco assiste. E de repente cai-me em cima esse circo…

Mas, doutor, as suas entradas não são vendidas com antecedência? Pagas à vista? Não há perigo -  acalmava Ribeirinho.

 - E o senhor pensa que sou homem para falar a cadeiras vazias? Dizer meus versos para meia dúzia? Caro senhor, tenho um nome a zelar, um nome com certa ressonância e uma parcela de glória no Brasil e em Portugal…

Não se preocupe… – informava Nacib, de pé ao lado da mesa ilustre. Esse é um cirquinho vagabundo está vindo de Itabuna. Não vale nada. Não tem animais, artistas que preste. Só mesmo menino é que vai…

O poeta estava convidado a almoçar com Clóvis Costa. Sua primeira visita fora à redacção do Diário de Ilhéus logo depois do desembarque. Queria saber se o doutor o podia acompanhar à tarde.

 - Certamente, com o maior prazer. E agora vou levar o ilustre amigo a casa de Clóvis.

 - Venha almoçar connosco, meu caro.

 - Não fui convidado…

(Cick na imagem de uma jovem que, se tivesse nascido uns anitos mais tarde poderia estar a bordo  da estação orbital internacional...)

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