quinta-feira, setembro 06, 2012


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 185


Novamente confundia-se – Isso é: não se ofenda, quero dizer que são divertidas, não é? Sou um tabaréu, não tenho muitas letras, conferência me dá um sono… Só perguntei por causa da patroa e das meninas… Porque, de outro modo não podia levar, não é? – E para terminar com aquilo: - Quatro entradas, quanto é?

Nacib ficava com duas, o sapateiro Felipe com uma. Para a noite do dia seguinte, no salão nobre da Intendência, com a apresentação do Dr. Ezequiel Prado, colega de Argileu na Faculdade.

Passava o poeta à segunda fase da operação, a mais difícil. Entrada quase ninguém recusava. Livro não tinha a mesma aceitação. Muitos torciam o nariz ante as páginas onde os versos se alinhavam em tipo miúdo. Mesmo aqueles que se decidiam, por interesse ou gentileza ficavam sem saber como agir quando, ao informarem-se do preço, o autor respondia:

 - À sua vontade… Poesia não se vende. Não deverá de pagar impressão e papel, composição e brochura e destribuiría gratuitamente os meus livros, a mancheias, como mandava o poeta. Mas… quem pode escapar do vil materialismo da vida?

Esse volume, que reúne as minhas últimas e mais notáveis poesias, consagrado de norte a sul do País, com uma crítica entusiasta em Portugal, custou-me os olhos da cara. Ainda nem o paguei… Fica a seu critério meu caro amigo…

O que era de boa técnica quando se tratava de exportador de cacau ou de fazendeiro.

Mundinho Falcão dera cem mil réis por um livro, além de comprar uma entrada. O coronel Ramiro Bastos dera cinquenta; em compensação comprara três entradas. E o convidara para jantar daí a dois dias.

Argileu informava-se com antecedência dos particulares de cada praça a visitar. Soubera assim da luta política em Ilhéus. Viera armado de cartas para Mundinho e Ramiro, de recomendações para os homens importantes de um e de outro bando.

Experiente de muitos anos a colocar, com paciência e denodo, as edições de seus livros, logo se dava conta o corpulento vate se o comprador era capaz de resolver por si e soltar uma quantia maior ou se devia ele insinuar-lhe:

 - Vinte mil réis e dou um autógrafo.

Quando o possível leitor ainda desistia, ele ficava magnânimo, propunha o limite extremo.

 - Como sinto o seu interesse pela minha poesia, vou lhe deixar pelos dez. Para que o senhor não fique privado do seu quinhão de sonhos, de ilusões, de beleza!

Ribeirinho, de livro enfiado na mão, coçava a cabeça. Consultava o Doutor com os olhos, querendo saber quanto pagar. Boa amolação tudo aquilo, dinheiro jogado fora. Meteu a mão no bolso, tirou mais vinte mil réis, fazia-o pelo Doutor.

Nacib não comprava, Gabriela não sabia ler, e, quanto a ele, tinha poesia de sobra com as que Josué e Ari Santos declamavam no bar. O sapateiro Felipe recusou, estava bastante tocado:

- Perdoe-me usted, senhor poeta. Eu leio sãmente prosa e certa prosa – acentuava o «certa».
(Click 2 vezes  neste rosto de olhar em êxtase... lindo!)

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