(Richard Dawkins)
Os computadores fazem o que lhes mandam.
Obedecem cegamente a quaisquer instruções que lhe sejam transmitidas pela
linguagem da programação. É assim que desempenham coisas úteis, como
processamento de texto e folhas de cálculo.
Mas também há um subproduto inevitável,
e que é o facto de terem um comportamento igualmente robótico quando se trata
de obedecer a instruções erradas. Não têm forma de saber se uma dada instrução
vai produzir um bom ou um mau resultado. Limitam-se a obedecer, tal como se
espera de um soldado.
É a sua obediência incondicional que
torna os computadores úteis e é precisamente isso também que os torna
inescapavelmente vulneráveis a infecções de vírus e vermes de software.
Um programa concebido com intenção
maldosa que diga: «copia-me e envia-me a todos os endereços que encontrares
neste disco rígido», vai limitar-se a ser obedecido e a voltar e a voltar a
sê-lo vezes sucessivas por todos os outros computadores para onde for enviado,
num crescimento exponencial.
É difícil, senão impossível, conceber um
computador que seja obediente de uma forma útil e ao mesmo tempo imune às
infecções.
Depois deste trabalho de sapa já os meus
amigos leitores terão completado o meu raciocínio acerca do cérebro das
crianças e da religião.
A selecção natural constrói o cérebro
das crianças de maneira a neles incutir uma tendência para acreditarem naqui lo que os pais e os chefes da tribo lhes dizem.
Essa obediência confiante, análoga à orientação da traça pela Lua é valiosa
para a sobrevivência, mas o reverso da obediência cega é a credulidade servil.
O subproduto inevitável é a
vulnerabilidade à infecção pelo vírus da mente. Por excelentes razões
relacionadas com a sobrevivência darwiniana, os cérebros das crianças precisam
de acreditar nos pais e nos mais velhos em quem os pais lhes dizem que o façam.
Uma consequência automática reside no
facto de aquele que confia não ter forma de distinguir os bons dos maus
conselhos.
A criança não tem forma de saber que
«não te metas no rio Limpopo, que está infestado de crocodilos» é um bom
conselho e que «tens de sacrificar uma cabra durante a lua cheia , senão não a
chuva não vem» é, no mínimo, um desperdício de tempo e de cabras.
Ambos os avisos parecem igualmente
dignos de confiança, ambos provêm de uma fonte respeitável e são proferidos num
tom de grave seriedade que inspira respeito e obediência.
<< Home