HOJE É
DOMINGO
(Da Minha cidade de Santarém)
Visitei o Porto, visita rápida como a
dos médicos só que eu não tinha doentes à minha espera. E realmente, a sensação
é a de quem visita um doente, tristonho, desacorçoado, mal dizente da vida…
apenas a fé inabalável no seu F.C. Porto e no inefável e infalível Pinto da
Costa, orgulho dos portistas, adorado pelos dragões, garantia de vitória.
Quanto ao resto é o desânimo, ou porque
o Estado levou a casa construída com o dinheiro ganho em dezassete anos
emigrado na Venezuela, ou porque, pura e simplesmente, não há trabalho, não há
clientes. Horas e horas ao volante de um táxi que não é dele, remunerado à
comissão, para chegar ao fim do dia e levar para casa cerca de dez euros… e
isto quase aos sessenta anos.
Vida cruel, esta: trabalha-se anos e
anos, sabe-se lá em que condições, regressa-se à terra saudoso, constrói-se a
casa sonhada e depois vem o cobrador de impostos e leva a casa…
Que importam os pormenores, os erros já
estão feitos, as ingenuidades cometidas. A trás daquele volante regressou ao
ponto zero, velho e gasto, ainda se tivesse vinte anos…
Penso na sociedade onde tudo isto
acontece e neste capitalismo neoliberal que foi esperança e desafio. Depois do
comunismo alguns pensaram que se poderia conseguir o paraíso na terra com um
capitalismo desenfreado mas que as forças auto-reguladoras garantiriam por si
mesmas o bem estar para todos.
Mas a realidade foi outra. A cobiça e a
voragem de homens concretos mas de caras escondidas, fizeram das medidas auto
reguladoras “gato sapato”, chamaram a si os políticos, gente fraca, sem forças
para resistirem ao canto da sereia e o resultado é uma sociedade triste,
preocupada sem saber bem o que pensar.
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… Mas o senhor tem dúvidas de que o F.C. Porto vai ganhar outra vez o
campeonato?
… Não, sinceramente, não tenho…
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