segunda-feira, setembro 03, 2012


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 182


Até Plínio Araçá, esquecida a rivalidade dos bares, trouxera champanhe. Casamento religioso que seria ainda melhor não houve. Só então se soube que Nacib era maometano, se bem em Ilhéus houvesse perdido Alá e Maomé. Sem ganhar, no entanto Cristo ou Jeová.

Nem por isso o padre Basílio deixou de vir, de abençoar Gabriela:

 - Que desabroches em filhos, minha rosa de Jericó.

Ameaçava Nacib:

 - Os meninos eu baptizo, quer você queira quer não queira…

 - De acordo, seu padre…

A festa entraria pela noite, certamente, se no longo crepúsculo não houvesse alguém gritado do passeio:

 - Olha as dragas chegando…

Foi uma corrida para a rua. Mundinho Falcão de volta do Rio, viera ao casório trazendo flores para Gabriela, rosas vermelhas. Cigarreira de prata para Nacib. Precipitou-se para a rua, o rosto a sorrir.

Embicando para a barra, dois rebocadores a puxarem quatro dragas. Um viva ressoou, outros muitos responderam, as despedidas começaram. Mundinho foi o primeiro, saíu com o Capitão e com o Doutor.

A festa se transportou para o cais, para as pontes de desembarque. Apenas as senhoras ficaram mais um pouco, também Josué e o sapateiro Filipe. Glória espiava da calçada, mesmo ela abandonara sua janela naquele dia. Quando Dª Arminda, por fim, desejou boa noite e saíu, a casa vazia e revolta, garrafas e pratos esparramados. Nacib falou:

 - Bié…

 - Seu Nacib.

 - Porquê seu Nacib? Sou seu marido, não sou seu patrão…

Ela sorriu, arrancou os sapatos, começou a arrumar, os pés descalços. Ele tomou-lhe da mão, respondeu:

 - Não pode mais não, Bié…

 - O quê?

 - Andar sem sapatos. Agora você é uma senhora.

Assustou-se.

 - Posso não? Andar descalça de pé no chão?

 - Pode não.

 - E porquê?

 - Você é uma senhora, de posses, de representação.

 - Sou não, seu Nacib. Sou só Gabriela…

 - Vou te educar – Tomou-a nos braços, levou-a prá cama.

 - Moço bonito…

No porto, a multidão gritava, aplaudia. Desencavaram foguetes, ninguém sabe onde. Subiam no céu, a noite caía, a luz dos foguetes iluminava o caminho das dragas. O russo Jacob, de tão excitado, falava numa língua desconhecida. Os rebocadores apitaram, entravam no porto.
(Click num local mais ou menos selvagem, desprezado,à beira de um rio de águas sujas escolhido para uma beldade... contrastes.)

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