quarta-feira, setembro 05, 2012


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 184

Armado de esplêndida caradura, não se deixava derrotar nem em tais condições extremas. Voltava à carga e quase sempre vencia: pelo menos um bilhete passava.

Os proventos de promotor davam apenas, e magramente, para as necessidades da família numerosa, a vasta filharada crescendo. Família numerosa, ou melhor: famílias numerosas, pois eram pelo menos três. Sujeitava-se a pulso o eminente vate às leis escritas, boas talvez para o comum dos mortais, mas inconfortáveis sem dúvida para os seres de excepção como o «bacharéis» Argileu Palmeira.

Casamento e monogamia, por exemplo. Como podia um verdadeiro poeta sujeitar-se a tais limitações? Jamais quisera casar-se, apesar de viver há cerca de vinte anos com a outrora saltitante augusta, hoje avelhantada, no que se pode chamar de sua casa matriz.

Para ela escrevera os seus dois primeiros livros: As Esmeraldas e os Diamantes (todos os seus livros tinham como títulos pedras preciosas ou semi-preciosas), e ela em troca lhe dera cinco robustos filhos.

Não pode um cultor de musas cultuar uma única musa, um poeta necessita renovar suas fontes de inspiração. Ele as renova denodadamente, mulher no seu caminho, virava logo soneto na cama. Com outras duas musas inspiradoras produziu famílias e livros.

Para Raimunda, flor de mulata adolescente e copeira, agora mãe de três filhos seus, burilou as Turquesas e os Rubis. As Safiras e os Topázios deveram-se a Clementina, viúva insatisfeita de seu estado, de quem nasceram Hércules e Afrodite.

É claro que, em todos esses consagrados volumes, existiam rimas para outras musas menores. É possível, também, existissem outros filhos além dos dez perfilhados, registados e baptizados todos sob o nome de deuses e heróis gregos, para escândalo dos padres.

Dez vigorosos Palmeiras, de variada idade, doze (porque aos ses dez somavam-se os dois do finado marido de clementina) valentes bocas a sustentar, herdeiros do mitológico apetite do pai. Eram eles, sobretudo – o gosto de mudar de paisagem, de ver terra nova – que levavam o vate àquelas peregrinações literárias durante as férias forenses.

Com um stock de livros e uma ou duas conferências na enorme mala negra sob a qual vergavam os ombros do mais forte carregador.

Uma só? Não faça isso… Não deixe de levar a madame. E os filhos que idade têm? Aos quinze anos já são sensíveis à influência da poesia e das ideias contidas em minha conferência. Aliás, extremamente educativas, próprias para formar a alma dos jovens.

 - Não tem indecência nenhuma? Perguntava Ribeirinho a lembrar-se das conferências de Leonardo Mota, que vinha a Ilhéus uma vez por ano e obtinha casa superlotada, sem necessidade de passar bilhetes, com suas palestras sobre o sertão. – Anedotas inconvenientes?

 - Por quem me toma, meu caro amigo? A mais rigorosa moralidade… Os sentimentos mais nobres.

 - Não disse para criticar, até gosto. Para falar a verdade, é mesmo as únicas conferências que suporto…

(Click na imagem. Será que estas belas jovens estão a dar à costa numa qualquer praia perdida?)

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