segunda-feira, setembro 24, 2012


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 200

 Ei-los sem máscara: não passariam jamais de chefes de jagunços. Mas enganaram-se ao pensar que amedrontariam os competentes engenheiros e técnicos mandados pelo Governo para rasgar o canal da barra, devido aos esforços desse benemérito incentivador do progresso, Raimundo Mendes Falcão, e apesar da grita impatriótica dos cangaceiros apegados ao poder.

Não, não amedrontavam ninguém. Aos partidários do desenvolvimento da região cacaueira repugnavam tais métodos de luta. Mas, se a eles fossem arrastados pelos imundos adversários, saberiam reagir à altura.

Nenhum outro engenheiro seria escorraçado de Ilhéus. Desta vez falhariam os pretextos. O número do Diário de Ilhéus estava sensacional.

Das fazendas de Altino Brandão e de Ribeirinho desceram jagunços. Os engenheiros durante algum tempo andaram nas ruas acompanhados de estranhos guarda-costas.

O mal afamado Loirinho, com um olho amassado era visto igualmente comandando jagunços de Amâncio Leal e Melk Tavares, inclusive um negro de nome Fagundes. Mas, descontando-se umas arruaças em casa de mulheres, em becos escuros, nada de mais grave aconteceu.

Os trabalhos prosseguiam, uma admiração geral a cercar as gentes dos rebocadores e das dragas.

Fazendeiros, em número cada vez maior, aderiam a Mundinho. Cumpria-se a previsão do coronel Altino: Ramiro Bastos começava a ficar sozinho. Seus filhos e seus amigos davam-se conta da situação.

Concentravam agora as suas esperanças na solidariedade do Governo, no não reconhecimento da vitória da oposição se esta acontecesse. Disso falavam, em casa do coronel Ramiro, seus dois filhos (Dr. Alfredo encontrava-se em Ilhéus) e seus dois mais devotados amigos: Amâncio e Melk. Deviam preparar as eleições à moda antiga: dominando bancas e juntas eleitorais, livros de acta.

Eleições a bico de pena. Com o que garantiriam o interior. Infelizmente em Ilhéus e em Itabuna, cidades importantes, era difícil empregar tais métodos sem correr certos riscos.

Alfredo contava ter o Governador lhe oferecido garantias absolutas: jamais Mundinho e sua gente obteriam o reconhecimento mesmo que vencessem cabalmente as eleições. Não iria entregar a zona do cacau, a mais rica e próspera do Estado, nas mãos de oposicionistas, de ambiciosos como Mundinho. Ideia absurda.

O velho coronel ouvia, o queixo apoiado no castão de ouro da bengala. Seus olhos, de onde a luz desaparecia, apertavam-se. Vitória assim não era vitória, era pior que derrota. Ele nunca precisara disso. Sempre ganhara na boca das urnas, os votos eram dele.

Guilhotinar adversários na hora do reconhecimento dos poderes, eis uma coisa que jamais necessitara de fazer. Agora, Alfredo e Tonico, Amâncio e Melk falavam sobre isso tranquilamente, sem dar-se conta da pesada humilhação a que o sujeitavam.

 - Não vamos precisar disso. Vamos ganhar é no voto!
(click na imagem: "camuflada com a natureza")

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