DOMINGO
(Da minha cidade de Santarém)
A nossa sensibilidade está mais viva, os
nossos sentidos mais apurados, percebemos a nossa impotência, o risco que
corremos, a impotência do País. Discutimos entre nós os “amendoins”, as
refeições outros as decidem.
Pergunto a mim próprio se poderia ter
sido de outra maneira, se era inevitável termos caído neste “buraco”
financeiro, se outro comportamento, outras decisões dos nossos políticos não
nos teriam conduzido a praias diferentes.
Ouvi esta semana as entrevistas na RTP
concedidas pelo filósofo José Gil e pelo “senador” da cena política deste país,
o Prof. Adriano Moreira, que ontem fez 90 anos. Fui seu aluno em 1961/62,
estava ele prestes a entrar na vida política do país.
O filósofo é um personagem triste, os
seus pensamentos, provavelmente, marcam-no dessa forma mas o que ele expressou,
com sinceridade mesmo, foi medo, medo pelo futuro dele, dos outros e do seu
país. Tal como o Prof. Adriano Moreira, medo pelos seus filhos, pelo mundo em
que eles irão viver.
Mas como foi possível?
Falemos de nós. Lembram-se, no início da década de 90
quando a explosão da actividade bancária foi tão forte, de norte a sul do país,
que nas praças centrais das nossas cidades, pastelarias que eram históricas
começaram a fechar para darem lugar a agências bancárias e as acções do BCP
haviam de chegar quase aos 4 euros contra os 0,08 que valem hoje, culminando com as vergonhosas PPP (parcerias público-privadas) negociadas para a construção de auto-estradas que irão envelhecer sem trânsito antes que os nossos netos as consigam pagar?
Começava em grande o negócio do dinheiro
que viria a correr muito bem nos vinte e tal anos seguintes: crédito barato,
febre consumista, carros, mobília, férias, especulação financeira no mundo
virtual da bolsa…
Agora, a banca despede, as agências
fecham mas, infelizmente, as pastelarias não voltaram.
Os portugueses, de raiva, mandam o
Relvas estudar, o Passos Coelho assume aquele ar grave e sério com que nos irá
comunicando, regularmente, as medidas de austeridade contestadas pelo PCP e
pelo Bloco indignados pelo sadismo revoltante do primeiro ministro que insiste
em fazer sofrer o povo.
O Prof. universitário Viriato Soromenho
Marques continua a insistir, e com toda a razão, na teimosia com que o todo
poderoso Banco alemão impede as decisões do Banco Central Europeu que poderiam
aliviar a pressão dos mercados sobre as dívida soberanas dos países do Sul
esmagados pelas taxas de juro que lhe são cobradas. Parece que eles, os
alemães, vivem, ainda hoje, assombrados por causa de uma inflacção que tiveram
no passado em que forraram as paredes das casas com notas de marco. Para eles,
o euro é como se fosse o seu marco de alguns anos atrás, há que defendê-lo,
acima de tudo.
Talvez eles se julguem possuidores de um
poder que na realidade não têm neste mundo de hoje, globalizado. Na entrevista,
o Prof. Adriano Moreira deixou entender isso mesmo. Um erro de cálculo da
Alemanha relativamente ao seu próprio poder no mundo actual, fora do quadro
europeu, poderá ser um erro suicida para eles e toda a Europa.
Motivos de preocupação que justificam os
medos do filósofo, do meu antigo professor, e eu pressinto, que de todos nós.
Medo que nos retrai, que faz adiar compras que diminui ainda mais o consumo, em
suma, agrava a nossa crise que aumenta os motivos de preocupação que justificam os
medos do filósofo, do professor e os de todos nós numa espiral de empobrecimento que é
preciso interrromper.
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