Desculpem, mas tudo o que nos está a acontecer
não devia ser surpresa. Passos mentiu-nos, da mesma maneira que Sócrates nos
mentiu e tanto um como o outro, sabiam que estavam a mentir. Há muito que este
país está a ser governado com base na mentira porque essa é a única forma de
governar Portugal. Mais, o próprio país que é Portugal, não passa de uma
mentira.
D. Afonso Henriques inventou uma batalha quando andava
com os seus homens a roubar gado, bens e a fazer escravos naquelas incursões
que tinham lugar junto das populações muçulmanas do sul da península, lá por
alturas de 1139.
«De repente, foi
confrontado com um enorme exército de mouros, surgidos não se sabe bem donde,
muito superior em número ao seu exército mas sobre o qual obteve uma vitória tão
estrondosa que só foi possível mediante a intervenção divina.»
Autoproclamou-se logo Rei de Portugal aclamado
pelas suas tropas no campo de batalha, de Ourique, reconhecido pelo rei de Leão e pelo Papa
Alexandre III muito sensível, como não podia deixar de ser, ao empenho de Deus
junto de Afonso Henriques ajudando-o a ganhar a batalha numa vitória
considerada, por esta razão, milagrosa.
Pregada a mentira, todos acreditaram que Portugal
existia, o próprio mundo acreditou, e de mentiras, enganos e expedientes,
séculos após séculos, a mentira tornou-se realidade, uma realidade mentirosa
que foi possível manter, com sorte e pela localização geográfica, atirada para
aqui , para a ponta da Europa meio
esquecida.
Os políticos
são eleitos porque mentem, caso contrário não seriam eleitos. Passos mentiu-nos
deliberadamente para poder ganhar as eleições dizendo a pés juntos e com todos
os dentes que tinha na boca que não lhe passava pela cabeça acabar com os
subsídios de Férias e de Natal quando fosse governo… Como se fosse possível
mantê-los num país sem dinheiro, nem possibilidades de o fabricar, sem crédito
e só não em bancarrota porque fomos à pressa chamar a troika. Como???...
Agora, mente-nos no dia a dia da governação e nós
continuamos a fingir que acreditamos. Entalados entre ele e a troika –
entenda-se bancarrota – os portugueses fingem que acreditam nas mentiras para
depois, com mais legitimidade, se poderem indignar contra elas.
As
verdades são terríveis, precisamos das mentiras para sobreviver sem morrermos
amanhã de angústia ou de um enfarte…
Poder-se-á dizer que este Passos Coelho não passa
de um rapazola que ainda no outro dia andava a namorar uma das Doce e,
portanto, não admira que minta, mas… e aquele outro senhor já de idade, muito
respeitável, que mandou em Portugal anos e anos seguidos com a ajuda da Pide, da Censura e dos "bufos", que nos mentiu dizendo que as colónias eram províncias
ultramarinas, parte integrante do território nacional, como o Alentejo ou o
Minho e os jovens negros de uma das quaisquer aldeias da vasta Angola, eram descendentes
de Afonso Henriques… também não mentiu?
E depois, foi o que foi: uma guerra inútil, milhares de mortos e estropiados e
500.000 portugueses recambiados à pressa para a terra de origem com uma mão à
frente e outra atrás.
Mentira por mentira, convenhamos que esta não se
compara com as do Passos Coelho, do Sócrates e de outros que o precederam
excepção feita ao Durão Barroso quando afirmou que estávamos de tanga… e era verdade, por isso foi recompensado com a Presidência da Comissão Europeia.
Os portugueses, os melhores de nós vão embora, os outros vão definhar, sinónimo de empobrecer, embalados pelas mentiras que é o que nos resta…
Episodicamente fomos ricos, com subsídios de
Férias, Natal e tudo… agora, apenas o seremos nas mentiras ou nas esperanças
que às vezes se confundem com elas.
Em tempos, não muito recuados, na minha
juventude, éramos quase todos pobres… muitos de nós até descalços andávamos, e os
velhos morriam ignorados ao canto das lareiras pelas aldeias desse país afora, esquecidos
pelo estado mas respeitados pela família. Agora, ainda que com alguma
pensãozita, morrem sós… a pior maneira de morrer.
A verdade desta sociedade é que nunca foi capaz
de produzir políticos, à excepção de um outro, que fossem autênticos líderes no
rumo, exemplo e formação a dar aos portugueses porque nós próprios também não
fomos capazes de os gerar. Ou eram ditadores que impunham uma ordem que servia
a eles e a quem os sustentavam ou eram democratas que espalharam a confusão e a
indisciplina.
Temo por Portugal, é o meu país, não o trocava
por nenhum outro… É verdade que nasceu de mentiras mas deu provas de
sobrevivência durante tantos séculos que só por isso merecia continuar…
Não sei, vendido a chineses, a angolanos e a quem
der mais, sem nada que seja dele, a que é que vamos chamar nosso no fim de
todas as privatizações?
Reduzidos à língua, ainda por cima com este
acordo ortográfico manhoso e à linha de fronteira, servindo turistas ricos, de
guardanapo imaculadamente branco pousado no braço, de espinha dobrada,
respeitosamente, esperemos que os nossos novos patrões nos paguem os ordenados
ao fim do mês… claro, sem subsídios de Férias e de Natal.
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