As Religiões – 11 de Setembro de 2001
11 de Setembro de 2001. Onze anos
passaram sobre o horror que senti ao presenciar em directo, pela televisão, o
embate do segundo avião contra as torres gémeas em Nova York. Inacreditável ,
quando, anos mais tarde numa entrevista clandestina a Bin Laden, escondido no
seu refúgio, ele confessava, com disfarçada vaidade, e sem o menor vislumbre de
emoção, que os resultados dos ataques tinham ultrapassado as suas próprias
expectativas. Esta declaração, fria e serena, deu-me a ideia da dimensão do
ódio que ultrapassa o próprio ódio: é simplesmente um desígnio, o desígnio da
morte, da eliminação.
A investigadora Maria João Tomás escreveu um
texto no Diário de Notícais que transcrevemos pela oportunidade e importância que revela: «A
Ascensão dos Salafitas, 11 anos após o 11 de Setembro» É um documento factual
que mostra o perigo que representa para a humanidade as facções
fundamentalistas de certas religiões.
“A Ascensão dos Salafitas,
11 anos após o 11 de Setembro”
«Em vésperas de mais um
aniversário do 11 de Setembro, numa altura em que os Salafitas na Tunísia
atacaram o último bar do hotel que ainda servia bebidas alcoólicas na cidade
berço da revolução de Jasmin, Sid Bouzid, e depois de terem conseguido fechar
todos os outros bares semelhantes, e de terem atacado galerias de arte, e
ameaçado as mulheres que usam biquíni e fato de banho na praia, tudo feito sob
a impassibilidade do governo do Ennahda que nada faz para os impedir, vale a
pena olhar com mais atenção para os partidos políticos baseados na ortodoxia
islâmica, nomeadamente os salafitas.
Denominam-se “salafi” às
primeiras gerações de muçulmanos, os companheiros de Maomé, dos seus
seguidores, e os seguidores dos seguidores. Os salafitas fazem uma
interpretação estrita do Islão sunita, geralmente muito independente.
Têm o desejo de se comportar
como as primeiras gerações de muçulmanos e acreditam que esse modelo de
sociedade é o ideal e o mais perfeito. O conceito “salafi” começou no século
XIX, como reacção à crescente influência dos valores da cultura ocidental e
numa tentativa de recuperar a pureza do Islão. Jamal al-Afghani Edin ou
Muhammad Abdu foram dois dos maiores estudiosos desta época, mas somente na
década de 70 o salafismo começou a ter intenções políticas.
Um dos principais movimentos
apareceu no Egipto, na cidade de Alexandria, como reacção ao aumento de
popularidade que a Irmandade Muçulmana estava a ter. Começaram com um movimento
académico de estudantes de medicina, que eram conhecidos como “salafitas de
Alexandria” e tinham como líder Mohamed Ismael al-Mokaddem.
Na década de oitenta,
criaram um Instituto de Estudos Islâmicos e formaram um grupo de assistência
social para ajudar os pobres, as viúvas e os órfãos, abrindo centros de saúde,
substituindo o estado na ajuda aos mais necessitados.
Apesar de não estarem
autorizados pelo governo, e de serem constantemente perseguidos e presos,
conseguiram expandir as suas operações e espalharam-se por todo o Egipto.
Muitos optaram, no entanto, por emigrar para a Europa e E.U.A. onde, ao abrigo
da liberdade religiosa e de expressão, puderam espalhar os seus ideais e a sua
interpretação conservadora e reaccionária.
Durante as revoltas da
“Primavera Árabe” tiveram uma atitude muito discreta, misturando-se com a
multidão, evitando serem acusados de principais instigadores da contestação.
A liberdade trazida com as
revoluções permitiu às populações expressar e demonstrar a sua religiosidade e
o salafismo acabou por ser uma opção política muito popular.
Começaram a aparecer os
partidos de inspiração salafita, que ideologicamente são considerados os
precursores do pan-islamismo, defendendo a pureza do Islão que deve regular
todos os aspectos da vida humana, da sociedade ao direito, à política e à
economia. Na generalidade, querem um Estado moderno com base numa ética
ortodoxa islâmica, acreditam na aplicação e viabilidade da sharia, defendendo
um modo de vida “halal”, ou lícito, proibindo a bidda ou as inovações.
Os seus seguidores acreditam
que desta forma conseguem resolver todos os problemas, desde a corrupção à
injustiça social. Têm líderes carismáticos e muito mediáticos, alguns com
programas televisivos com muita audiência.
Suspeita-se que muitos
partidos salafitas recebam apoios da Arábia Saudita o que, juntamente com a
violência que usam para defenderem os seus ideais, faz que sejam muito
criticados, mesmo dentro da comunidade islâmica mundial.
Onze anos depois dos ataques
do 11 de Setembro, e através de eleições democráticas, a ortodoxia islâmica tem
vindo a ganhar importância e visibilidade no universo político, não só nos
países do Médio Oriente e norte de África, mas um pouco por todo o mundo.
No Afeganistão, numa altura
em que os talibãs controlam uma boa parte do Sudeste do país, e quando as
tropas americanas preparam a retirada em 2014, o actual Presidente Hamid
Karzai, convidou-os a formar um partido político, arriscando-se a que tenham um
resultado surpreendente nas próximas eleições.
Bem Laden estava muito longe
de pensar que, algum dia, tal fosse possível… e Bush também não.»
Nota –
A agressividade, inteligência, desprezo pela vida e fanatismo desta
gente levá-los-á a imporem-se, progressivamente, a toda a comunidade islâmica
após o que estarão livres para disputarem aos outros povos, portadores de
outras religiões, o poder universal numa cruzada que só parará numa confrontação
total. Pelo menos, estes são os seus objectivos.
Como aprendemos com Richard
Dawkins, o sub-produto da religião que, inicialmente, teve origem numa
predisposição do cérebro para acreditar naqui lo
que os pais e os mais velhos diziam às crianças com firmeza e voz grossa,
factor importante para a sobrevivência da nossa espécie, poderá, no futuro,
conduzir-nos ao holocausto da mesma forma que as traças se precipitam para o
“suicídio” na chama de uma vela.
O Ocidente tem que estar
atento, todos nós temos que estar atentos. Preservar, defender e transmitir aos
nossos filhos uma sociedade que respeita o quadro de valores de Direitos e
Liberdades em que vivemos deve ser a nossa principal preocupação. Nesta defesa,
precisamos de perceber que não lutamos com armas iguais e isso fragiliza-nos. Pelo
menos não nos sacrificamos em vida para matar os nossos inimigos, quando muito
morremos em combate.
Toda a atenção que as
autoridades dos nossos países conseguirem dedicar a este problema é pouca e
muita dela foi descurada no 11 de Setembro de 2001…
Defendemos a convivência entre
todos os povos, de todos os credos mas esse relacionamento tem de ser
responsável para que possa ser preservado.
A nossa maneira de viver é o
que temos de mais importante, de tal forma importante que nem nos apercebemos. Actualmente,
fazemos um uso discreto da nossa religião predominante mas há quem a use a
religião como arma, a pior e mais potente de todas, e aqui
incluo também os fundamentalistas da Igreja (dita) de Cristo.
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