segunda-feira, setembro 10, 2012


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio nº 188


 - Mas eu sou convidado e lhe convido. Esses almoços, meu caro, a gente não deve perder. São sempre melhores que o trivial da casa. Sem falar na comida dos hotéis, má e pouca, pouquíssima!

Quando saíram, Ribeirinho comentou:

 - Esse doutor duplo nem feito de encomenda… Vai arrecadando tudo: é entrada, é livro, é almoço… Isso deve comer que nem jibóia…

É um dos maiores poetas da Baía – afirmou Ari.

João Fulgêncio tirava do bolso o cartão de visita:

 - O cartão de visita pelo menos é admirável. Jamais vi coisa igual.  «Bacharéis»… Imaginem! Vive no Parnaso. Perdoe-me, Ari, mas sem ter lido, não gosto da poesia dele. Não pode ser grande coisa…

Josué folheava o exemplar de Topázios, comprado pelo coronel Ribeirinho, lia versos em voz baixa:

 - Não tem fôlego, é um versinho anémico. E atrasado, como se a poesia não houvesse evoluído. Hoje, no tempo do futurismo…

 - Não digam isso… É até um sacrilégio – Ari exaltava-se – Ouça, João Fulgêncio, esse soneto. É divino, lia o título já em tom de declamação: - «O Ribombar da Cachoeira».

E mais não pôde ler porque o espanhol Filipe surgiu na sala, mal seguro nas pernas, tombando sobre as mesas, a voz difícil:

 - Serraceno, burguês, súcio, donde está Gabriela? Que hiciste de mi flor roja, de la gracia…

Agora era uma cabrocha jovem, aprendiza de cozinheira, a portadora diária da marmita. Felipe, tropeçando nas cadeiras, queria saber onde Nacib enterrara a graça, a alegria de Gabriela. Bico Fino tentava levá-lo de volta ao reservado de pocker. Nacib fazia um gesto vago com as mãos como a pedir desculpas, ninguém sabe se do estado de Felipe ou se da ausência no bar da graça, da alegria, da flor de Gabriela.

Os demais olhavam em silêncio. Onde a animação daqueles dias passados, quando ela vinha da hora do meio-dia, uma rosa atrás da orelha? Sentiram o peso de sua ausência, como se bar sem ela perdesse o calor a intimidade.

Tonico interrompeu o silêncio:

 - Sabem o título da conferência do poeta?
 - Não, qual é?

 - «Uma lágrima e a saudade».

 - Um xarope, vocês vão ver – prognosticou Ribeirinho.

(Parece que vem agora para aí uma nova telenovela da Gabriela... mas esta gente não sabe viver da saudade? Se é para a gente nova, aqueles que nunca viram e não conhecem porque não repôem a telenovela de 1975, com a Sónia Braga, a melhor telenovela que já passou na televisão? Comparem o sorriso e a expressão da Sónia Braga aos 25 anos com o da artista que vai  agora fazer o papel dela e digam-me quem faz lembrar uma linda cabocla do sertão brasileiro? E os personagens do restante elenco?.  Apenas uma vantagem: dar trabalho a outros artistas e a  esse argumento eu sou sensível)



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