DUAS FLORES... |
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 129
As três ajudantes estavam de
acordo. Iluminou-se Gabriela, bateu as mãos de contente. Nem tivera coragem de
falar com Nacib. Ia de noite, escondida, ensaiar o reisado. Todo o dia era para
lhe falar, adiava para o outro.
Dora costurava sua roupa de
cetim com lantejoulas e missangas brilhantes. Pastora dos Reis, dançando nas
ruas, levando o estandarte, cantando cantigas, puxando o terno mais belo de
Ilhéus. Disso gostava, para isso nascera, ah!, Gabriela! A Srª Saad não podia
sair, pastora de reis a dançar pelas ruas. Iria ofendê-lo, iria magoá-lo. Que
podia fazer? Ah!, que podia fazer?
Das Festas do Fim do Ano
Chegava o fim do ano, os
meses das festas de Natal, de Ano Bom, dos Reis Magos, das festas de formatura,
das festas da Igreja com quermesses armadas na Praça do bar Vesúvio, à cidade
cheia de estudantes em férias, petulantes e realizadores, vindos dos Colégios e
Faculdades da Baía.
Danças em casas de família,
sambas de umbigada nas casas pobres dos morros, da ilha das Cobras. A cidade
festiva e festeira, cachaçadas e brigas nos cabarés e botequi ns das ruas do canto. Cheios os bares e os
cabarés do centro. Passeios no Pontal, piqueniques no Malhado e no morro de
Pernambuco para ver os trabalhos das dragas.
Namoros, noivados, os
recentes doutores recebendo, ante os olhares húmidos de pais e mães, as visitas
de felicitações. Os primeiros ilheenses de anel de grau, filhos de coronéis.
Advogados e médicos,
agrónomos, professores, formados ali mesmo, no Colégio das Freiras. O padre
Basílio, contente da vida, a baptizar o sexto afilhado, nascido por obra de
Deus do ventre de Otália, a sua comadre. Farto comentário para os comentários
das solteironas.
Fim de ano tão animado
jamais transcorrera. A safra fora muito além de quanto se pudera imaginar. O
dinheiro rolava fácil, nos cabarés corria o champanhe, nova carga de mulheres
em cada navio, os estudantes fazendo concorrência aos moços do comércio e aos
caixeiros-viajantes no xodó das raparigas.
Os coronéis pagando, pagando
com larguesa, rasgando dinheiro, notas de qui nhentos
mil réis. A casa nova do coronel Manuel das Onças, quase um palácio, inaugurado
com uma festa de arromba. Muitas casas novas, ruas novas, a avenida da praia
crescendo no caminho dos coqueirais do Malhado.
Os navios chegando da Baía,
do Recife e do Rio entupidos de encomendas: o conforto crescendo dentro das
casas. Lojas e lojas, as vitrinas convidativas. A cidade aumentando, se
transformando.
No Colégio de Enoch
realizaram-se os primeiros exames sob fiscalização federal. Veio do Rio o
fiscal, jornalista do órgão do governo, pegara aquele bico. Era cronista
citado, deitou conferência, os meninos do colégio passaram os bilhetes.
Foi muita gente, o rapaz
tinha fama de grande talento. Apresentado por Josué, falou sobre “As novas
correntes na literatura moderna – de Maritetti a Graça Aranha. Um xarope
tremendo, somente quatro ou cinco conseguiram entender. João Fulgêncio, Josué,
um pouco Nhô-Galo e o Capitão. Ari entendia mas era contra.
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