terça-feira, outubro 30, 2012

DUAS FLORES...

GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 129


As três ajudantes estavam de acordo. Iluminou-se Gabriela, bateu as mãos de contente. Nem tivera coragem de falar com Nacib. Ia de noite, escondida, ensaiar o reisado. Todo o dia era para lhe falar, adiava para o outro.

Dora costurava sua roupa de cetim com lantejoulas e missangas brilhantes. Pastora dos Reis, dançando nas ruas, levando o estandarte, cantando cantigas, puxando o terno mais belo de Ilhéus. Disso gostava, para isso nascera, ah!, Gabriela! A Srª Saad não podia sair, pastora de reis a dançar pelas ruas. Iria ofendê-lo, iria magoá-lo. Que podia fazer? Ah!, que podia fazer?

Das Festas do Fim do Ano

Chegava o fim do ano, os meses das festas de Natal, de Ano Bom, dos Reis Magos, das festas de formatura, das festas da Igreja com quermesses armadas na Praça do bar Vesúvio, à cidade cheia de estudantes em férias, petulantes e realizadores, vindos dos Colégios e Faculdades da Baía.

Danças em casas de família, sambas de umbigada nas casas pobres dos morros, da ilha das Cobras. A cidade festiva e festeira, cachaçadas e brigas nos cabarés e botequins das ruas do canto. Cheios os bares e os cabarés do centro. Passeios no Pontal, piqueniques no Malhado e no morro de Pernambuco para ver os trabalhos das dragas.

Namoros, noivados, os recentes doutores recebendo, ante os olhares húmidos de pais e mães, as visitas de felicitações. Os primeiros ilheenses de anel de grau, filhos de coronéis.

Advogados e médicos, agrónomos, professores, formados ali mesmo, no Colégio das Freiras. O padre Basílio, contente da vida, a baptizar o sexto afilhado, nascido por obra de Deus do ventre de Otália, a sua comadre. Farto comentário para os comentários das solteironas.

Fim de ano tão animado jamais transcorrera. A safra fora muito além de quanto se pudera imaginar. O dinheiro rolava fácil, nos cabarés corria o champanhe, nova carga de mulheres em cada navio, os estudantes fazendo concorrência aos moços do comércio e aos caixeiros-viajantes no xodó das raparigas.

Os coronéis pagando, pagando com larguesa, rasgando dinheiro, notas de quinhentos mil réis. A casa nova do coronel Manuel das Onças, quase um palácio, inaugurado com uma festa de arromba. Muitas casas novas, ruas novas, a avenida da praia crescendo no caminho dos coqueirais do Malhado.

Os navios chegando da Baía, do Recife e do Rio entupidos de encomendas: o conforto crescendo dentro das casas. Lojas e lojas, as vitrinas convidativas. A cidade aumentando, se transformando.

No Colégio de Enoch realizaram-se os primeiros exames sob fiscalização federal. Veio do Rio o fiscal, jornalista do órgão do governo, pegara aquele bico. Era cronista citado, deitou conferência, os meninos do colégio passaram os bilhetes.

Foi muita gente, o rapaz tinha fama de grande talento. Apresentado por Josué, falou sobre “As novas correntes na literatura moderna – de Maritetti a Graça Aranha. Um xarope tremendo, somente quatro ou cinco conseguiram entender. João Fulgêncio, Josué, um pouco Nhô-Galo e o Capitão. Ari entendia mas era contra.

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